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O governo federal já sabe que a conta política do acidente do vôo 3054 da TAM em São Paulo lhe será cobrada. Não sabe ainda como irá liquidar a fatura mas já não esconde um esforço de tentar descolar a reação política das investigações sobre o acidente.

"Independente de culpados, sabemos que muita coisa recairá sobre nossas costas", disse um interlocutor do presidente.

Depois da declaração protocolar de luto oficial e da convocação de um comitê de crise, o primeiro movimento do governo foi na ofensiva: Lula convocou a Polícia Federal para investigar a obra de reforma da pista de Congonhas. Em seguida o governo fez uma ação defensiva através de nota oficial do ministro da Defesa, Waldir Pires, pedindo "cautela" nas especulações sobre as causas do acidente.

Depois disso o governo parou. Quase um dia inteiro depois da tragédia e nenhuma autoridade federal de primeiro escalão diretamente ligada ao assunto veio a público para falar. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que estava em São Paulo acompanhando os trabalhos de resgate mantém-se em silêncio, assim como o ministro da Defesa, representantes do comitê de crise e outros. Isso sem falar nos presidentes de Infraero e Anac.

Enquanto isso, o governador José Serra (PSDB) e o prefeito de Gilberto Kassab (DEM) estiveram no local da maior tragédia aérea do país e fizeram questão de falar muito com o público através da mídia. Escanteado no gerenciamento da atual crise, o ministro, que vinha sendo atacado durante toda a crise aérea pela oposição, mídia e parcela da opinião pública, agora voltou a ter sua demissão exigida pela oposição.

Se já era complicada por conta do acidente com o avião da Gol, a situação do ministro Waldir Pires entrou na fase mais difícil desde o início da crise aérea, disseram fontes do governo nesta quarta-feira.

Horas após o acidente com o Airbus da TAM, na véspera, a oposição já pedia a cabeça de Pires.

Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ponderam que dificilmente ele tomará alguma decisão sobre o futuro de seu auxiliar antes que as causas do acidente sejam minimamente esclarecidas. Muitos, no entanto, reconhecem que a imagem do ministro está "dilapidada" e que a conta do governo pode aumentar ainda mais por conta do imobilismo.

Pires acompanhou o desdobramento do episódio na noite passada ao lado de Lula, mas não foi escalado a ir para São Paulo acompanhar o resgate de perto.

Já Juniti Saito foi escolhido como único interlocutor do presidente. O contato entre eles é direto, pelo celular, relatou um assessor.

"Ele não quer intermediários... os dois estão falando pelo celular", disse uma fonte da Reuters com acesso ao gabinete presidencial.

Waldir Pires só se pronunciou a respeito no início desta tarde.

"O momento é de cautela, e enquanto os resultados das investigações não forem concluídos, o melhor será manter a sobriedade e evitar julgamentos precipitados e ilações que prejudiquem a realização dos trabalhos e possam aumentar ainda mais a angústia das pessoas, já tão abaladas nesta tragédia," disse ele por meio de nota.

Ação e reação

De acordo com análises de bastidores do Planalto, feitas por funcionários que acompanham o caso diretamente, a iniciativa de Lula mostra que ele não está disposto a poupar ninguém, independente da relação com o governo.

Segundo pessoas próximas ao presidente, os desdobramentos políticos sobre o acidente não eram avaliados com precisão na noite passada. Nesta manhã, no entanto, já corria no Planalto a avaliação de que, independente do resultado das investigações, o governo está sendo mesmo responsabilizado pelo ocorrido nas matérias da imprensa.

"Estavam todos transtornados ontem. Acho que os aspectos políticos só começaram a ser discutidos hoje", contou um outro assessor de Lula, também sob condição do anonimato.

A ordem é evitar especulações e impedir, nessa fase inicial, a propagação da tese de "tragédia anunciada".

"O governo não está querendo disputar versão nem quer aceitar a atual versão como verdade", disse um assessor, referindo-se à tese de que o acidente aconteceu porque a pista principal de Congonhas não possui as ranhuras (chamadas de groovings) no asfalto, necessárias para aumentar a aderência entre aeronave e solo. Após a reforma, a via de pousos e decolagens foi colocada em funcionamento sem isso.

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