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Orçamento

Governo não tem meta clara para pagar juros da dívida, dizem especialistas

Novos números do Orçamento foram recebidos com ceticismo por analistas de contas públicas. Expectativas são de que a economia para pagar juros da dívida ficará abaixo do anunciado nesta quarta

Os novos números do Orçamento Federal foram recebidos com ceticismo por especialistas em contas públicas. As expectativas são de que a economia do governo para pagar juros da dívida, o chamado superavit primário, ficará abaixo do anunciado nesta quarta-feira (22) pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

A meta oficial foi mantida em R$ 155,9 bilhões (3,2% do PIB), mas o governo anunciou que avalia abater dessa meta R$ 45 bilhões relativos a gastos com investimentos e perdas com arrecadação, o que reduzira a economia para 2,3% do PIB. Antes, estava prevista a possibilidade de abater R$ 25 bilhões, mas a legislação permite descontar até R$ 65 bilhões.

Para o economista Mansueto Almeida, essas várias alternativas possíveis implicam, na prática, na falta de uma meta real."Não se sabe se o governo vai fazer 3,1% do PIB, ou, 2,3%, ou 1,5%", disse.

A opinião é a mesma de Felipe Salto, da consultoria Tendências. Na sua avaliação, o baixo crescimento econômico e a ampliação das desonerações vão impactar as receitas públicas, tornando difícil até mesmo que o governo alcance uma economia de 1,6% do PIB. Apesar de o governo projetar que a economia brasileira vai crescer 3,5% neste ano, o mercado prevê uma expansão inferior a isso.

Outro fator que alimenta a descrença de que a meta cheia será alcançada é a expectativa de que os governos regionais não cumpram a sua parcela da economia prevista.

O Orçamento anunciado nesta quarta-feira manteve a previsão de que municípios e Estados economizarão R$ 47,8 bilhões neste ano, mas nos últimos anos, lembra Mansueto, os governos regionais não têm cumprindo com os objetivos estabelecidos. Antes, o governo federal tinha que cobrir a diferença, mas isso deixou de ser obrigatório neste ano.

"O governo federal tem estimulado que os Estados aumentem seu endividamento para bancar mais investimentos. Isso dificulta o cumprimento da meta de superavit", observou Mansueto.

Inflação

Salto considera que a política fiscal do governo hoje é expansionista, ou seja, alimenta a alta da inflação no país. Isso, observa, forçou o Banco Central a voltar a subir os juros em março. Ele não acredita, porém, que o anúncio de hoje vai impactar as próximas decisões de política monetária, pois o superavit menor já está na conta do BC.

"O BC vai manter os juros mais altos do que a Fazenda gostaria, mas não subirá a taxa o suficiente para trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%", disse."Ao tentar alcançar todos os objetivos, corre o risco de ficar sem nenhum", acrescentou. O superavit primário é a economia do governo para pagar juros da dívida pública, mantendo o endividamento público sob controle. Com uma economia menor, calcula Salto, a relação dívida/PIB, que vinha caindo nos últimos anos, deve agora se manter estável.

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