
Um dos fatos que mais chamou atenção na primeira manifestação pública de Michel Temer (PMDB) como presidente interino, na quinta-feira passada (12), foi a presença de sete ministros do novo governo que estiveram no primeiro escalão do segundo mandato de Dilma Rousseff ou que ocupavam cargos de liderança da petista no Congresso.
INFOGRÁFICO: Os pontos em que os governos são parecidos e diferentes
Grande parte das medidas propostas por Temer e por sua equipe também é igual ao que Dilma vinha defendendo para recuperar as contas públicas e a economia. Mas as semelhanças não significam que os dois governos serão parecidos.
“Existem rupturas e continuidades no governo Temer”, diz o cientista político Pedro Fassoni, da PUC-SP. Dos nove partidos que estavam no ministério de Dilma até março, seis ganharam cadeira na Esplanada no novo governo. Há uma diferença crucial, porém. “Saiu o PT e entrou o PSDB [o principal partido de oposição ao governo petista]. Isso muda a correlação de forças.”
Cientista político da PUCPR, Mário Sérgio Lepre afirma que no sistema político brasileiro o presidente dita o rumo do governo. E, com Temer, haverá uma guinada à direita. “A base [de Temer] é a mesma. Mas Dilma jogou o ‘centrão’ [grupo de partidos sem clara orientação ideológica] para a esquerda. Agora o centrão vai para a direita.”
Lepre diz ainda que, embora Dilma houvesse proposto um conjunto de medidas econômicas muito semelhante ao de Temer, faltava à presidente afastada um fator essencial para aprová-las: credibilidade. Em 2014, ela foi eleita com uma plataforma de esquerda.
Ao tomar posse para o segundo mandato, diante do descontrole das contas governamentais, tentou adotar um receituário típico da direita, voltado para o equilíbrio fiscal, ao chamar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Mas Lepre lembra que o próprio PT era contra as medidas que Dilma propunha. Temer, diz ele, não tende a enfrentar esse tipo de problema.
Privatizações
O cientista político da PUCPR lembra ainda que, na área econômica, a nova gestão possivelmente vai se diferenciar ao adotar um plano de privatizações de estatais e de concessões na área de infraestrutura. Dilma tinha um plano de concessões de portos, aeroportos e estradas. Mas as taxas de retorno oferecidas à iniciativa privada costumavam ser pouco atraentes.
Além disso, em muitas das concessões, era exigida a participação acionária de estatais – o que também desestimulava os investimentos privados.



