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Levy e Barbosa: nova CPMF vai durar só por quatro anos. | Valter Campanato/Agência Brasil
Levy e Barbosa: nova CPMF vai durar só por quatro anos.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Pressionado pela perda do selo de bom pagador e sob a ameaça de deterioração ainda maior da economia, o governo Dilma Rousseff decidiu cortar gastos e aumentar impostos para tapar o rombo de pelo menos R$ 30,5 bilhões no orçamento de 2016 enviado ao Congresso Nacional.

Saída de Unger abre caminho para corte de ministérios

  • brasília

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o filósofo Mangabeira Unger pediu demissão nesta segunda-feira (14). Em nota, a presidente Dilma Rousseff afirma que aceitou o pedido e agradece “todo o trabalho prestado por Unger durante sua gestão [...], esperando que ele possa continuar contribuindo com seus valorosos serviços como consultor do governo federal”.

Unger comunicou à presidente que estava deixando o cargo por motivo de “doença grave” na família. A decisão de Unger, no cargo desde fevereiro, foi tomada no momento em que o Planalto anunciou o corte de ao menos dez ministérios –uma das medidas contra o déficit. Segundo assessores de Dilma, o ministro pode ter se antecipado à reforma, que vai extinguir sua pasta.

Com a saída, Dilma deflagrou a reforma ministerial que será detalhada na semana que vem.

Os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciaram o tamanho do corte de gastos: R$ 26 bilhões – que incluem o congelamento dos salários dos servidores federais e de concursos e o contingenciamentos de programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida – que perderá R$ 4,8 bilhões dos R$ 15,6 bilhões que estavam previstos para 2016.

Empresários criticam cortes no Sistema S e aumento de tributos

O governo também propôs o aumento e a criação de impostos, como a nova CPMF – o imposto sobre movimentações financeiras. No total, as receitas previstas para o ano que vem vão aumentar R$ 40,2 bilhões. Com isso, o governo espera tapar o rombo e economizar cerca de R$ 30 bilhões para fazer 0,7% do PIB de superávit primário. Com isso, pode pagar juros – o motivo de o Brasil perder o selo de bom pagador.

A maior parte das medidas depende do apoio do Congresso, que terá de aprová-las. O governo precisa da aprovação de seis medidas provisórias, duas propostas de emenda constitucional (PECs) e um projeto de lei para aprovar o ajuste fiscal.

Imposto do cheque

A alíquota proposta para a nova CPMF, de 0,2% sobre movimentações financeiras, deve gerar R$ 32 bilhões para os cofres do governo em 2016, dinheiro que irá abastecer a Previdência Social. Segundo Levy, o objetivo é que o imposto seja provisório e “não dure mais do que quatro anos”.

Outra medida que deve encontrar resistência é o adiamento do reajuste dos servidores que começaria a ser pago em agosto de 2016. Com isso, o governo economiza R$ 7 bilhões. Apenas para o funcionalismo do Poder Executivo, o gasto com aumentos chega a R$ 13,15 bilhões. O governo também anunciou a suspensão dos concursos em 2016, gerando uma economia de R$ 1,5 bilhão.

Joaquim Levy anunciou ainda que haverá aumento do Imposto de Renda (IR) sobre o ganho de capital de pessoas Físicas, que é o cobrado na alienação de bens. Segundo ele, a medida terá um impacto de R$ 1,8 bilhão na arrecadação de 2016. Atualmente, é cobrada uma alíquota de 15% em todas essas operações de vendas de imóveis de pessoas físicas. Com a mudança, operações cumulativas de até R$ 1 milhão por ano continuarão com a mesma alíquota, mas haverá faixas mais altas para valores superiores: de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões (20%), de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões (25%) e transações superiores a R$ 20 milhões (30%).

Cortes

Medida Descrição Impacto Afetados
Mudança de fonte do Minha Casa, Minha Vida Ideia é que o FGTS passe a participar dos gastos da faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida. R$ 4,8 bilhões Todos os trabalhadores
Mudança no PAC Emendas parlamentares serão direcionadas para execução de programas para o PAC. R$ 3,8 bilhões Deputados e senadores
Reduzir despesa discricionária para o orçamento da saúde 50% das emendas parlamentares impositivas já vão para saúde. Ideia é direcionar esse porcentual para programas prioritários do Ministério da Saúde R$ 3,8 bilhões Deputados e senadores
Redução do custo administrativo Renegociação de contratos, limites para gastos com servidores e redução de ministérios R$ 2,0 bilhões Servidores e fornecedores do governo federal
Suspensão de concursos públicos Suspender concursos públicos, não só para o governo federal como para os demais Poderes. R$ 1,5 bilhão Quem estuda para fazer concursos federais
Eliminação do abono de permanência Benefício pago a servidores que adquirem condição de aposentadoria, mas permanecem no trabalho. Proposta de emenda constitucional (PEC) será enviada ao Congresso. R$ 1,2 bilhão Aposentados que continuam trabalhando
Revisão do gasto com subvenção de garantia de preços agrícolas Gastos previstos com garantias de preços agrícolas serão reduzidos. R$ 1,1 bilhão Produtores agrícolas
Garantir a implementação do teto remuneratório do serviço público Proposta é enviar um projeto de lei ao Congresso para disciplinar a metodologia de cálculo do teto de remuneração do serviço público. Envolve diversas esferas da federação. R$ 0,8 bilhão Servidores que ganham acima do teto

Impostos

Medida Descrição Impacto Afetados
CPMF Recriação da CPMF, imposto que incide sobre operações financeiras, com alíquota de 0,20%. Objetivo é que a CPMF não dure mais de quatro anos. R$ 32 bilhões em arrecadação Toda a população
Imposto de Renda Aumento da alíquota do Imposto de Renda de pessoa física sobre ganhos de capital. O aumento do IR terá 4 alíquotas, que vão de 15 a 30%, esta para ganhos de capital acima de R$ 20 milhões. R$ 1,8 bilhão Quem apontar aumento de capital na Declaração do IR
Redução do gasto tributário Redução das compensações do Reintegra, programa que devolve parte das receitas obtidas através de exportação de produtos industrializados, de forma gradual. R$ 2 bilhões em economia Empresas exportadoras
Redução PIS/Cofins Redução da alíquota de PIS/Cofins no Regime Especial da Indústria Química. R$ 800 milhões em economia Indústrias do setor químico
Mudança no Sistema S Mudança na dedução de valores do Sistema S. R$ 2 bilhões em economia Entidades do Sistema S, como Sesi e Senac.

O ministro do Planejamento também informou que o governo vai renegociar contratos do governo de aluguéis, segurança, manutenção e outros serviços, gerando uma economia de R$ 1,6 bilhão no ano que vem.

Além disso, haverá um limite estipulado com o gasto com servidores com diárias, passagens aéreas, auxílio moradia e telefone, o que vai impactar em R$ 200 milhões por ano a menos. O teto salarial do servidor também será disciplinado, rendendo R$ 800 milhões de economia. Já com a redução de ministérios e cargos de confiança o governo espera economizar R$ 200 milhões. Outra medida tomada é o fim do abono de permanência pago aos servidores que têm idade para se aposentar, mas que permanecem no serviço público. A economia será de R$ 1,2 bilhão por ano. Já o PAC terá cortes R$ 3,8 bilhões.

Empresários criticam cortes no Sistema S e aumento de tributos

  • são paulo

Empresários e representantes da indústria, do varejo e do setor de serviços criticaram a elevação de tributos, como a volta da CPMF, e a retenção de parte das verbas do Sistema S –conjunto de nove instituições, como Sesc, Senai, Sebrae e Senac.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, é preciso “negociar a forma como estes cortes vão acontecer”. O empresário afirmou que o corte linear vai prejudicar estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que contam com verbas para bancar programas profissionalizantes.

A redução nas verbas do Sistema S foi criticada também pela Abimaq, associação que reúne fabricantes de máquinas, e pela Fecomercio SP.

“O governo não cortou nada na carne. O que houve foi falta de transparência e uma transferência [da conta] para a sociedade”, disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao se referir à CPMF.

Para Skaf, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) foi irônico ao fazer comentários como “um aumentozinho de tributo”. “Um desrespeito. O Brasil não precisa de ministro para aumentar imposto, mas, sim, para combater a corrupção, reduzir o tamanho do Estado. O gastão da história é o governo, não são as famílias.”

José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP, lamentou o corte adicional referente ao Minha Casa, Minha Vida, além da redução de R$ 15 bilhões nesse programa, já anunciada anteriormente. “Responsável por 60% dos investimentos produtivos, a construção será fundamental para a retomada do crescimento econômico”, afirmou.

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