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Lula: para reanimar a economia e ter apoio político, solução é liberar dinheiro  para governadores e prefeitos. | EVARISTO SA/AFP
Lula: para reanimar a economia e ter apoio político, solução é liberar dinheiro para governadores e prefeitos.| Foto: EVARISTO SA/AFP

Conversas gravadas pela Polícia Federal (PF) mostram um pouco dos bastidores da nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o ministério da presidente Dilma Rousseff. Nas primeiras conversas, os interlocutores tentam convencer Lula a assumir um cargo no ministério, mas ele se mostra contrário ideia. Na última segunda-feira (14), porém, ele disse estar com a cabeça “amadurecida”, e pediu uma reunião a sós com Dilma.

“ASSUME E RESOLVE O PROBLEMA”

A primeira conversa, do dia 8 de março, é com o cientista político Alberto Carlos Almeida, do instituto Análise – erroneamente identificado como “Roberto Carlos” pela PF. Primeiro, Almeida discorre sobre a natureza autoritária da Justiça brasileira e diz que, em sua avaliação, Lula corre risco de ser preso. “É uma decisão individual daquele cara de Curitiba [Moro]. Ele pega e toma a decisão, tá tomada, acabou!”, diz.

Depois, Almeida sugere a Lula assumir um ministério. “Agora, você tem uma coisa na tua mão, porra: você, o PT, a Dilma. Faz isso e foda-se! Vai ter porrada? Vão criticar? E daí? Numa boa, você resolve outro problema, que é o problema da governabilidade”, diz.

O cientista político diz, ainda, que fez uma simulação para clientes de sua agência com um cenário no qual Lula assume um ministério e Antônio Palocci assume o Ministério da Fazenda – cargo que ocupou no primeiro mandato de Lula. Segundo Almeida, a resposta do mercado foi positiva. “Acaba a crise, acaba! Põe o mercado no bolso, e faz o que tem que ser feito, acabou!”, diz.

Lula revela que tem dificuldades em aceitar a proposta. “Não, não tô esperando nenhum arranjo não. Pra mim é muito difícil essa hipótese. Na verdade, ela [Dilma] já ofereceu, sabe?”, disse. Ele disse ainda temer que a imprensa “desça o cacete” em Dilma e em Palocci. “A Lava Jato queimou todo mundo, a Câmara, o Senado. Porra, antes era só ele [Palocci] que tava queimado, agora é todo mundo. E daí?”, responde Almeida.

LIBERA DINHEIRO QUE TUDO SE AJEITA

No dia seguinte, Lula conversou com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), logo depois da reunião que teve com senadores da base aliada. Dias diz que “sabe” das tratativas e reconhece a dificuldade em Lula assumir um ministério. O ex-presidente logo responde: “Não é uma tarefa fácil. Eu jamais irei pro governo pra me proteger”.

Então, o governador do Piauí diz que o que Lula está fazendo “é fantástico”, provavelmente se referindo à articulação com parlamentares, e fala da política econômica. “Eu tô aqui pra falar com ela sobre isso. Oito partidos, 21 governadores que dão sustentação às mudanças que ela precisa fazer pra valer na economia. Não tem jeito, ela precisa ampliar um pouco o endividamento pra poder ter dinheiro pra poder fazer esse país crescer”, diz.

Lula responde: “Eu acho, eu acho, eu acho! A coisa mais simples que ela tem que fazer é liberar financiamento pros governadores, pros prefeitos e fazer o BNDES liberar logo o dinheiro pra fazer as obras do tal PIL [Programa de Investimento em Logística], do PAC da puta que pariu!”, diz.

“NÓS PRECISAMOS DE VOCÊ”

Por fim, o ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da República, Gilberto Carvalho, liga no mesmo dia para tratar de outros assuntos. Antes de desligar, ele pergunta se Dilma o convidou para o ministério, e Lula confirma. Questionado se toparia, Lula diz que a princípio não, mas que está pensando. “Pensa porque é a outra razão [que Lula está sendo convidado], não é essa que tá sendo publicada, é a outra. Nós precisamos de você”, diz.

CAFÉ DA MANHÃ “GOSTOSO” COM DILMA

No último dia 10, o presidente do PT, Rui Falcão, usa o mesmo celular para conversar com Jaques Wagner, ministro da Casa Civil. Falcão começa contando sobre o pedido de prisão preventiva de Lula, e já pergunta sobre a situação de Lula. “Se nomear ele hoje, o que acontece?”, pergunta. Wagner diz que não sabe e pergunta se ele já decidiu. “Não, mas todo mundo pressionou ele aqui. Fernando Haddad [prefeito de São Paulo], todo movimento sindical, todo mundo”, responde o presidente do PT.

No dia 14 de março, logo após o domingo de manifestações, Lula parece ter tomado uma decisão. O ex-presidente liga para Jaques Wagner, comunica que está indo para Brasília e pede uma reunião com Dilma. Ele sugere um “café da manhã gostoso” com a presidente. “Eu preciso de meia hora com ela sozinho. E depois, entra a tropa”, diz Lula.

Depois de algumas conversas sobre as manifestações, Wagner pergunta se a cabeça “está amadurecendo”. “Tá amadurecendo, quase caindo de podre”, responde Lula. “Eu tenho recebido muito pedido pra eu aceitar, sabe? Muito, muito, muito!” Wagner então responde: “Meu cargo está a sua disposição, viu?” E Lula completa: “Eu serei seu adjunto”, aos risos. Dois dias depois, Lula seria nomeado ministro – e a crise política ganhava um novo capítulo.

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