
Centenas de categorias entrarão em greve nesta quarta-feira (15) em protestos por todo o Brasil contra as reformas trabalhista e da Previdência, mas, ainda que reúnam milhares, não sensibilizarão o governo de Michel Temer a recuar nas propostas. A tendência é que a força das ruas cause um impacto indireto, pressionando parlamentares a se posicionarem contra mudanças radicais nos direitos hoje vigentes.
O fato é que Temer precisa implementar mudanças nas finanças públicas do país, sob pena de não ter bandeira alguma no mandato conquistado via impeachment de Dilma Rousseff. “Desde que se estabeleceu, o governo Temer usou o discurso das reformas como fundamento para buscar legitimidade, então não há como se afastar dessa imagem de reformista”, observa Luís Felipe da Graça, professor do Departamento de Sociologia e Política da UFSC.
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Caso as manifestações se mostrem grandes e fortes por todo o país, serão os deputados e senadores que tentarão suavizar as propostas. “Pode ser que o governo já tenha previsto as dificuldades de tramitação e por isso tenha sugerido medidas duras, que cairiam depois”, observa o professor da UFSC.
A despeito das críticas e da baixa popularidade, com só 10% de aprovação, Temer tem se mostrado otimista com o andamento das reformas. Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor na UERJ, esse posicionamento não vai mudar. “Ele não vai convocar uma coletiva para demonstrar preocupação, e, por outro lado, usa as armas que têm: canetas, cargos e dinheiro para parlamentares”, observa.
Para deputados e senadores, que enfrentarão eleições em 2018, a situação é outra. “Os parlamentares vão suavizar a proposta e retirar os dispositivos mais polêmicos”, prevê Monteiro. No Paraná, por exemplo, foram instalados outdoors com o nome de deputados da base de Temer, pedindo que a população os pressione a mudar de ideia.
O cientista político pondera que Temer fez uma aposta muito alta. “É um governo com baixa legitimidade, apoiado em uma base política que se tornou alvo da Lava Jato, e que está governando um país com desemprego alto e expectativa do PIB abaixo de 1% para 2017”, observa Monteiro.
26 de março
Há outras manifestações programadas para 26 de março, mas com outro foco: pelo fim do foro privilegiado e contra as propostas de anistia do caixa 2. Monteiro avalia que os grupos responsáveis, o Vem pra Rua e o MBL não têm interesse em criar um “Fora Temer”, e que por isso a situação atual difere bastante daquela vivida por Dilma um ano atrás.
Por outro lado, na opinião de Graça, é difícil Temer passar incólume. “O combate à corrupção foca todo o corpo político brasileiro, e Temer é um presidente que tem respaldo forte nesse grupo. Difícil ele se salvar da identificação com o corpo político que está sendo degenerado”, afirma.



