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História

Há 45 anos, jovens também faziam megamarcha

Passeata dos Cem Mil, realizada em junho de 1968 contra a ditadura militar, tem paralelos com as atuais manifestações no país

Passeata dos Cem Mil, no Rio: estopim foi a repressão violenta | Estadão/Conteúdo
Passeata dos Cem Mil, no Rio: estopim foi a repressão violenta (Foto: Estadão/Conteúdo)

A mobilização de multidões, como a que toma conta das ruas do país, não é um fato inédito no Brasil. Quis a história que os atuais protestos coincidissem com outra manifestação histórica que está completando 45 anos e que tem semelhanças com as atu­ais marchas. Em 26 de junho de 1968, durante o governo do presidente Costa e Silva, 100 mil pessoas partiram da Cinelândia, no Rio de Janeiro, munidas de cartazes e palavras de ordem para protestar contra a ditadura militar. O episódio ficou conhecido como a Passeata dos Cem Mil.

"Havia [em 1968] uma certa insatisfação dos estudantes com as carreiras profissionais, havia a Guerra do Vietnã, e no ano anterior aconteceu a morte de Che Guevara. Mas principalmente havia a ideia muito forte do socialismo como alternativa ao capitalismo", diz o historiador Marco Antônio Villa, professor da pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Estopim

Se os motivos das manifestações de 1968 e das atuais são completamente distintos, ao menos o estopim foi similar. O professor da Universidade de São Paulo Marcos Napoli lembra que a Passeata dos Cem Mil "foi uma resposta da sociedade carioca à intensa repressão a estudantes que ocorreu na Semana Sangrenta [de 19 a 21 de junho], no Rio de Janeiro". "Nesses dias, os protestos estudantis contra o regime se acirraram, causando a morte de quatro estudantes, dezenas de feridos e centenas de presos", diz Napoli. A violenta repressão policial aos primeiros protestos de 2013 em São Paulo também catalisou as atuais manifestações.

Napoli afirma ainda que a Passeata dos Cem Mil representava um descontentamento com o regime militar, que até 1968 não havia conseguido retomar o crescimento econômico. Situação parecida com o ambiente econômico de hoje, com PIB baixo e inflação em alta.

Outra coincidência entre 1968 e 2013 é o cenário internacional. Há 45 anos, havia protestos no mundo todo. Mais notadamente na França, onde estudantes montaram barricadas nas ruas de Paris para enfrentar a polícia e trabalhadores entraram em greve geral – no que ficou conhecido como Maio de 68. Mais uma coincidência com relação à atualidade: 2013 também tem sido um ano de protestos populares internacionais – como os que ocorrem na Europa e na Turquia.

Marcos Napoli afirma que, embora as manifestações nacionais de 1968 tenham se inspirado no exemplo parisiense, o movimento estudantil brasileiro tinha sua própria pauta. "Desde 1966, o movimento se empenhava na luta contra o regime militar, seja por questões estudantis, seja por questões políticas mais amplas."

A insatisfação das ruas contra a ditadura, somada a uma série de outros fatores, foi usada pela linha dura do regime militar como argumento para editar em dezembro daquele ano o Ato Institucional n.º 5. O AI-5 cassou direitos fundamentais, deu superpoderes ao presidente e levou ao endurecimento da ditadura, os chamados Anos de Chumbo. Algo que, espera-se, não venha a ter paralelo com 2013. Nem nunca mais na história do país.

Colaborou Fernando Martins.

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