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LGBT

Homossexuais em busca de votos

Associação listou militantes gays assumidos que vão disputar as eleições em 19 partidos, dos mais libertários aos conservadores, comandados por evangélicos

Toni Reis, minitante da causa LGBT. Movimento buscará apoio nas urnas | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Toni Reis, minitante da causa LGBT. Movimento buscará apoio nas urnas (Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo)

Não basta ser gay, tem de ter proposta. O lema, citado pelo presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, é o ponto de partida para pelo menos 110 militantes homossexuais que são pré-candidatos a vereador nas eleições deste ano. A associação listou filiados de 19 partidos que pretendem concorrer em mais de 70 municípios de 23 estados. Em 2008, foram 80 candidatos, com seis vereadores eleitos.

Os pré-candidatos não buscaram apenas legendas de bandeiras libertárias, como o PV. Há filiados a siglas conservadoras como o PR do senador evangélico Magno Malta (ES), que no ano passado ameaçou renunciar se o Congresso aprovasse a lei anti-homofobia, com o argumento de que o projeto de lei estimula "a criação de um terceiro sexo".

"O senador Magno Malta e eu nos damos muito bem. Ele elogia minha atuação, já me visitou aqui na cidade. Acho que um dia ele vai entender melhor o nosso movimento", diz a travesti Moa Sélia, que disputará o terceiro mandato de vereadora no município capixaba de Nova Venécia. Moa já foi presidente da Câmara Municipal e preside o PR municipal. "Aos poucos, a gente vai se impondo perante a sociedade e até no meio político", diz ela, eleita pela primeira vez com o slogan "a diferença que faz".

Segundo Moa, o PR ainda discute a possibilidade de lançá-la candidata à prefeitura. "Vou sempre pregar o reconhecimento dos LGBT, mas minha primeira bandeira é a moralização, o combate à corrupção. Trabalhar a questão LGBT no interior depende de Brasília. Não adianta criar leis municipais se não tiver respaldo no Congresso."

Eclético

Assim como Moa, o candidato a vereador Sillvyo Luccio Nóbrega, da pequena cidade de Pacatuba, no Ceará, transexual, foi acolhido por uma legenda conservadora, o PSDC, democrata cristão. "O partido não tem nada a ver com minha plataforma, mas, no meu município, é aberto, eclético e eu faço parte do diretório municipal", afirma. Uma das bandeiras do ativista de 48 anos é o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas do sexo feminino que, como Sillvyo, gostariam de fazer a cirurgia para assumir o sexo masculino. "Essas cirurgias praticamente não acontecem, não existem equipes multidisciplinares", lamenta. "Ter um amigo gay é bem-humorado, ter uma amiga lésbica é ser sem preconceito. Mas ter um amigo transexual masculino, gestor público e candidato a vereador é muito forte. Não importa o número de votos. O importante é que sejamos candidatos e nos tornemos visíveis", diz Sillvyo.

Presidente da Diversidade Tucana, grupo que reúne militantes e simpatizantes da causa gay no PSDB, o funcionário público Marcos Fernandes disputa uma vaga na Câmara Municipal paulistana. "Não enfrento problemas no partido e tenho sido muito bem recebido em várias comunidades, inclusive por evangélicos. Não vejo entre os fiéis a mesma resistência da cúpula das igrejas", diz o pré-candidato tucano.

Marcos disputou uma vaga de vereador em 2008, mas reconhece que fez uma campanha "totalmente segmentada" para o meio LGBT. Agora, ampliou o público e as propostas. "Este ano vamos tratar o tema da diversidade, da geração de emprego e renda, educação, capacitação, saúde, cultura. Tenho uma preocupação, por exemplo, com os adolescentes mais afeminados, que sofrem mais bullying", diz o tucano, que adotou o slogan "São Paulo mais diferente e menos desigual".

Plataforma vai além da questão da sexualidade

Os pré-candidatos homossexuais buscam contruir uma plataforma política que vá além da pauta tradicional do movimento LGBT. Para isso, o discurso permeia temas comuns a todos os candidatos.

A geração de emprego, por exemplo, é um dos temas centrais da campanha da travesti Sharlene Rosa (PT), de 34 anos, que disputa uma vaga de vereadora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. "Sou do movimento LGBT e também combato o preconceito em geral, contra o idoso, o deficiente. No caso do emprego, quero dar atenção à população que está na prostituição mas gostaria de seguir outro caminho", diz Sharlene. Ela cobra da presidente Dilma Rousseff um aceno aos homossexuais.

"Entendo que o PT sofre pressão da bancada evangélica, mas acredito que a Dilma vai tomar o rumo certo e olhar para a população LGBT", diz Sharlene. E sonha: "Quem sabe, nas próximas eleições, não posso entrar na cota feminina do partido?".

Segundo Toni Reis, o momento atual é de incentivo às candidaturas LGBT, mas o movimento continuará a apoiar os "aliados", que serão incluídos em uma lista mais ampla. Em 2008, fizeram parte da lista de aliados, entre outros, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy (PSDB), além de Fernando Gabeira (PV), Jandira Feghali (PC do B), Solange Amaral (PSD) e Alessandro Molon (PT). "Não é nossa intenção afrontar os valores evangélicos e não queremos candidatos corporativistas. Não basta ser LGBT para a gente votar. A pessoa deve ter um histórico de luta e também propostas. Orientação sexual não é pauta política."

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