O Instituto Médico Legal (IML) terminou o trabalho de identificação das oito vítimas do acidente com um Learjet da empresa Reali Táxi Aéreo, que caiu neste domingo sobre uma residência logo após decolar do Campo de Marte . Oito pessoas morreram, seis delas de uma mesma família que passava o domingo em casa.
Nesta segunda-feira, os bombeiros recolheram peças e partes da aeronave. Um dos motores e uma das turbinas foram localizados. As peças foram encaminhadas para o Campo de Marte. A Aeronáutica tem 90 dias para divulgar um laudo sobre o acidente.
A casa atingida pelo avião foi completamente perdida. Uma residência ao lado terá de ser demolida e os moradores de dois outros imóveis só poderão retornar depois que forem reformados. A Defesa Civil aguarda a liberação da área para demolir o que restou de escombros e iniciar a remoção. Os bombeiros vão acompanhar os trabalhos, pois ainda há restos de querosene no local.
Os primeiros a ser identificados e enterrados foram Ana Maria de Lima Fernandes, 21 anos, e Lucas de Souza Sá Junior, 20 anos. Eles são os pais do bebê Luan Victor Lima, de 10 meses. O enterro foi no Cemitério Chora Menino, na zona norte. Morreram ainda Lina Oliveira Fernandes, 74 anos, bisavó do bebê, e dos avós dele, Ayres Fernandes, 53 anos, e Rosa Lacerda de Lima Fernandes, 55 anos.
- Morreram todos juntos, vamos enterrar todos juntos - disse Lauro Fortes, cunhado de Rosa Lima, mãe de Ana Maria.
A mulher de Fortes, Josefa, é irmã de Rosa e esteve no IML para ajudar no reconhecimento dos corpos. O casal soube da morte da família pela tevê, pois reconheceu nas imagens a casa destruída pela queda do avião.
A única sobrevivente da família é Cláudia de Lima Fernandes, de 16 anos. Ela teve 30% do corpo queimado e está internada em estado grave no Hospital do Servidor Público. O destino da menina é ainda incerto, embora parentes distantes afirmem que cuidarão dela.
A adolescente é filha do casal Ayres Fernandes e Rosa Lima e estava num quarto brincando com Laís Gonçalves da Silva Coutinho de Mello, de 11 anos. Laís também ficou ferida, mas sem gravidade.
Uma mulher de 92 anos teve um enfarte ao ver a queda do avião e continua internada.
Laudo do acidente tem prazo de 90 dias.
Nesta segunda, a polícia começou a ouvir as sete primeiras testemunhas, todas vizinhas da família morta. Elizabeth Sato, delegada da Seccional Norte, informou que espera receber da empresa Reali Táxi Aéreo os documentos que comprovem a manutenção do jato. Adiantou, porém, que o inquérito criminal depende do resultado das apurações da Aeronáutica.
Segundo a empresa, o piloto e o co-piloto, mortos no acidente, eram experientes. O piloto Paulo Roberto Montezuma Firmino, de 39 anos, teria trabalhado também na aviação comercial e estava na empresa desde janeiro. O co-piloto, Alberto Soares Junior, de 24 anos, havia sido contratado em junho passado e, apesar da pouca idade, teria o número de horas de vôo necessários. A Reali ainda não informou o número de horas de vôo dos dois.
Os corpos do piloto e do co-piloto também já foram identificados. Alberto será enterrado em Piracicaba. O enterro de Montezuma Firmino ainda não foi decidido
No acidente, 28 pessoas ficaram desalojadas. Dez delas passaram a noite na casa de parentes e outros 18 foram para um hotel na Barra Funda.
Aeronave teria tentado retornar ao Campo de Marte
Durante a madrugada, o Corpo de Bombeiros terminou o trabalho de retirada das peças maiores da aeronave. A asa da aeronave, que tinha combustível e poderia causar a explosão, foi retirada durante a noite. O material está sendo levado para o Campo de Marte.
Depois de decolar do Campo de Marte, o Learjet voou por pouco tempo. Especialistas em segurança de vôo dizem que é possível que tenha ocorrido uma pane elétrica ou incêndio no motor. Chovia forte no momento do acidente.
Segundo testemunhas, os motores pararam de funcionar assim que o avião decolou. Logo em seguida, a aeronave fez uma manobra que não foi comunicada à torre de controle: uma curva para a direita, quando o correto teria sido virar à esquerda. De acordo com Carlos Mineli de Sá, do Serviço de Proteção ao Vôo, este procedimento é adotado quando há problemas com o motor e o piloto tenta voltar ao Campo de Marte.
O piloto chegou a ser avisado do erro pela torre de controle, mas não houve resposta, indicando que o avião já poderia ter algum problema, diz Sá. Ele explicou também que o avião decolou da pista 30 do Campo de Marte e, por isso, precisava fazer curva à esquerda para não interferir no tráfego aéreo de Guarulhos
- O avião ia bater em um conjunto de prédios, mas conseguiu desviar e dar meia volta. A impressão era de que ia retornar para o Campo de Marte - diz o mestre-de-obras João Wellinton Albuquerque Souza, que estava em frente ao aeroporto.
O LearJet 35, modelo 35, prefixo PT OVC, da empresa de táxi aéreo Reali, ia para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e voava a 3.600 metros de altura.
O Learjet não tem caixa preta. Segundo Carlos Mineli de Sá, esse tipo de aeronave só possui o Cockpit Voice Recorder, conhecido como VCR, que grava as conversas dentro da cabine. A análise do equipamento será importante para elucidar as causas da queda.
Cinco acidentes aéreos em uma semana
A queda do bimotor foi o quinto acidente aéreo em uma semana em São Paulo. Na quinta-feira, três helicópteros caíram no estado, matando três pessoas e deixando outras seis feridas.
O Campo de Marte fica na zona norte de São Paulo, em Santana. É o aeroporto mais antigo do estado e o quarto de maior movimento em todo o país. No ano passado, registrou trânsito de mais de 170 mil passageiros e 85 mil pousos e decolagens, 70% de helicópteros.
Construído em 1920, o Campo de Marte opera com aviação executiva, taxi aéreo, escolas de pilotagem e serviço aéreo das polícias Civil e Militar.
