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A antropóloga e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB) Débora Diniz conhece bem a realidade das mulheres que têm de optar pela realização de um aborto. Ela acompanhou durante um ano várias mulheres que passavam por gestações de risco nos ambulatórios do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS). Para ela, o processo está equivocado no Brasil pois as mulheres que têm que recorrer à ilegalidade por não se sentirem preparadas para a maternidade acabam sendo julgadas pela sociedade.

"Essas mulheres estão entre duas representações muito dolorosas: entre as pecadoras e as assassinas. O que nós temos que mostrar é que elas não são nenhuma das duas coisas. São mulheres comuns que não querem filhos naquele momento". Para a antropóloga, o aborto é um dos maiores desafios morais que um ser humano pode enfrentar. Por isso, ela defende que o tema seja encarado de forma mais humana na sociedade brasileira.

Sobre os casos de mulheres que receberam diagnóstico de inviabilidade fetal, ou seja, que constataram que o bebê que estava sendo gerado não teria chance de sobreviver, Débora Diniz conta que o sofrimento das mães é redobrado, pois elas têm ainda que enfrentar uma negociação judicial para garantir a possibilidade do aborto. As mulheres que não se sentem preparadas para assumir a maternidade sofrem, além do dilema moral, o conflito de ter que atuar na ilegalidade, recorrendo a métodos inseguros e pondo a vida em risco.

Débora Diniz acredita que o Estado brasileiro deveria dar condições para que as pessoas tomem suas próprias decisões sobre ter ou não um filho já concebido. "A gestação não pode ser um dever imposto pelo Estado, ela tem que ser um direito de escolha", defende a antropóloga.

Ela também argumenta que o Brasil, por ser um estado laico (que se opõe a tudo o que tenha qualquer ligação com a religião organizada), deve dar a liberdade para que as pessoas possam manifestar as crenças que quiserem, inclusive crença alguma. "Nós não temos uma defesa do aborto. O que nós defendemos é que as mulheres e seus companheiros são seres suficientemente autônomos para tomar as melhores decisões sobre suas vidas", analisa.

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