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Desenvolvimento

Infra-estrutura é obstáculo para crescimento de 5%

O Brasil não tem infra-estrutura para crescer no ritmo de 5% ao ano desejado pelo governo, segundo a avaliação de especialistas e representantes da indústria ouvidos pela BBC Brasil. De acordo com os especialistas em infra-estrutura, o crescimento brasileiro não depende apenas da política monetária - que envolve a definição da taxa de juros e do superávit primário - mas também de limitações físicas ao crescimento e ao escoamento da produção.

Os principais gargalos da infra-estrutura são, segundo eles, as estradas, os portos e os projetos de geração de energia. A preocupação com infra-estrutura ajuda a explicar a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter se reunido, na última terça-feira, com os ministros dos Transportes (Paulo Sérgio Passos) e Energia (Silas Rondeau) para pedir ações na área.

- A infra-estrutura atual tanto de transportes e logística como de energia é deficitária - afirmou o diretor da divisão de Infra-estrutura e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Saturnino Sérgio da Silva.

Segundo projeções da Fiesp, se a economia brasileira crescer 4% ao ano, haveria escassez de energia elétrica a partir de 2009. De acordo com os cálculos feitos pela federação, o consumo de energia aumentaria 5,5%, caso o PIB brasileiro crescesse 4%.

- Se você projeta esse tipo de crescimento, os projetos de geração de energia previstos hoje já deveriam estar em andamento, mas eles não estão saindo - afirmou Silva, citando o atraso no cronograma de construção das hidrelétricas de Serra do Facão e de Estreito, em Tocantins.

No caso do transporte, ele afirma que o principal corredor de exportações do país, por exemplo, ainda passa pelo meio da cidade de São Paulo. O atraso na conclusão do Rodoanel - que permitiria o escoamento da produção sem passar pela capital paulista - é um dos gargalos de transporte do país.

Para o diretor da empresa de consultoria Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cieb), Adriano Pires, a economia brasileira tem um teto de 4% para crescer anualmente. A infra-estrutura atual de transportes e energia impediria um ritmo mais acelerado de expansão.

- Hoje não se tem estrada, porto e energia para superar um crescimento econômico de 4%. Mesmo crescendo 4%, para ter fornecimento de energia suficiente, você precisa torcer para que chova bastante e para que problemas como a Bolívia (que está renegociando o preço do gás natural vendido às termoelétricas brasileiras) não se repitam - avaliou Pires.

Outro problema, segundo Pires, é que investimentos em infra-estrutura demoram entre três e sete anos para poderem ser utilizados pela indústria. Especialistas apontam dois problemas para a falta de infra-estrutura brasileira: a escassez dos investimentos públicos e a ausência de marcos regulatórios que atraiam o capital privado em áreas que o estado não consegue investir.

O investimento público em infra-estrutura tem caído no Brasil nas últimas décadas. Segundo um estudo do economista Pedro Cavalcanti Ferreira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a média anual de investimento no setor caiu de 5,3% do PIB, em 1969, para 2,2% em 2004.

- Em transporte, por exemplo, já houve momentos em que se gastou quase 2% do PIB, durante os anos 1970. Hoje o governo gasta menos que 0,5%, chegando no máximo a 0,7% em um ou outro ano. Se o Brasil começasse a ter um crescimento chinês, ele teria que ter investimentos chineses em energia. Mas que demoram muito tempo para se concretizar ou ficam muito caros - disse Ferreira.

No caso da energia, Ferreira acredita que um crescimento acelerado seria acompanhado pela instalação de mais termoelétricas, que podem ser construídas em curto prazo. No entanto, a energia gerada por termoelétricas é mais cara do que a produzida por investimentos de longo prazo, como hidroelétricas.

- Sem infra-estrutura, você não chega a parar de produzir, mas acaba aumentando muito o custo. A produção fica mais cara e as decisões de longo prazo não são ótimas - afirmou.

Para os especialistas, os investimentos privados em infra-estrutura esbarram na falta de marcos regulatórios que incentivem a produção.

- A falta de regulação é o principal obstáculo para todos os setores de infra-estrutura. Faltam marcos legais que atraiam o capital privado. Esses marcos precisam ter duas características: uma é a modéstia, ou seja, não se tentar inventar um modelo inédito. A outra é o pragmatismo para atender as demandas - afirmou Pires.

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