
Brasília - Não passou do primeiro dia útil do ano a harmonia entre PT e PMDB no governo Dilma Rousseff. Descontentes com a partilha de cargos, os peemedebistas solicitaram a suspensão de todas as nomeações para o segundo escalão até fevereiro. A decisão foi anunciada ontem, depois de uma reunião com os líderes do partido na casa do vice-presidente, Michel Temer. Entre os que participaram da reunião estava o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o novo presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO).
Em meio ao adiamento das negociações, os peemedebistas mostraram uma das armas que pretendem usar na disputa: apoiar o reajuste do salário mínimo para um valor superior ao estabelecido pelo Poder Executivo (leia mais na matéria ao lado). No dia 30 de dezembro, o ex-presidente Lula editou uma medida provisória para aumentar a quantia de R$ 510 para R$ 540. A mudança tem eficácia imediata, mas ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional, que retoma os trabalhos no dia 1.º de fevereiro. O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Paulo Pereira da Silva (PDT), irá propor uma emenda para que o mínimo fique em R$ 580.
Ontem, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que o partido ainda precisa ser "convencido" sobre a proposta do governo. Outra liderança da legenda, o deputado federal Eduardo Cunha (RJ), escreveu no microblog Twitter que os peemedebistas deveriam propor R$ 560. As declarações ocorreram um dia após o vice-presidente pedir a Dilma para interromper as nomeações para o segundo escalão, durante a primeira reunião da Coordenação Política no Palácio do Planalto, conduzida pela presidente.
As reclamações do PMDB começaram no dia 21 de dezembro, quando foram encerradas as últimas definições do ministério. No final da gestão Lula, o partidocomandava seis pastas: Agricultura, Minas e Energia, Defesa, Integração Nacional, Saúde e Comunicações. Manteve o número com Dilma, mas foi forçado a trocar as três últimas por outras consideradas menos nobres Previdência, Turismo e Assuntos Estratégicos.
A mudança representou uma redução de 37% dos recursos previstos para investimentos gerenciados pelos ministérios sob controle da legenda (de R$ 38 bilhões para R$ 25,4 bilhões). Do outro lado, o orçamento de investimentos para as pastas petistas subiu de R$ 42 bilhões para R$ 53,6 bilhões. A gota dágua para o PMDB, no entanto, foi a perda de cargos periféricos, mas considerados estratégicos.
Entre eles estão a Secretaria de Atenção à Saúde e a Fundação Nacional da Saúde, ligadas ao Ministério da Saúde, e a direção dos Correios, empresa subordinada ao Ministério das Comunicações. "Há indiscutivelmente uma crise e ela foi provocada por falta de diálogo", diz o deputado federal paranaense Rodrigo Rocha Loures, membro da executiva nacional do PMDB.
Segundo ele, a reação de pedir a suspensão das nomeações é evitar que a tensão aumente. "O que o PT precisa entender é que o PMDB não é mais um partido da base aliada, agora nós fazemos parte do próprio governo." Ontem, após tomar posse como ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o peemedebista Moreira Franco disse que "sempre haverá divergências" entre as duas legendas, mas negou qualquer rebelião. Franco foi o último dos 37 ministros a assumir.
As cerimônias de posse realizadas na segunda-feira também deram o tom da crise entre os dois partidos. Os peemedebistas boicotaram quase todas as celebrações para ministros petistas entre elas, a do paranaense Paulo Bernardo (Comunicações), que contou apenas com um colega do PMDB, Nelson Jobim (Defesa).



