
As suspeitas de que o novo presidente da Assembleia do Paraná (AL), Valdir Rossoni (PSDB), era o principal alvo de escutas clandestinas encontradas no prédio do Legislativo foram reforçadas com a descoberta de uma instalação elétrica para filmagem no gabinete do segundo-secretário cargo que até terça-feira passada era ocupado pelo deputado tucano (ele se elegeu presidente da Assembleia no dia 1.º e, então, se mudou para a sala da presidência, onde também foram encontradas escutas).A instalação de filmagem foi encontrada pela Embrasil, a empresa privada de segurança que está fazendo uma varredura em busca de escutas na Assembleia. Os técnicos, porém, não descobriram câmeras para a filmagem do que se passava no gabinete. O material encontrado deve ser encaminhado ao Instituto de Criminalística do Paraná, juntamente com os aparelhos de gravações telefônicas e de ambiente que foram encontrados no fim de semana nas salas da presidência e da primeira-secretaria.
O delegado-chefe do Centro de Operações Especiais (Cope) da Polícia Civil, Alexandre Macorin, é quem está à frente das investigações do grampo na Assembleia. Ele, porém, evita falar na existência de escutas clandestinas no Legislativo. Prefere dizer que, no momento, existem "indícios muito fortes" de grampo ilegal, já que até agora não haveria nenhuma comprovação de que gravações foram realmente feitas.
Alguns detalhes embasariam a tese de que os equipamentos foram instalados há pouco tempo e que talvez nem tenham sido usados. Eles não tinham poeira acumulada e os fios, fitas isolantes e colas tinham o aspecto de recém-colocados.
Ontem, uma testemunha procurou Rossoni para dizer que no período de recesso legislativo do final de dezembro ao início de fevereiro viu movimentações no prédio durante a noite e que os funcionários afirmaram que se tratava de manutenção dos aparelhos de ar condicionado, reforçando suspeitas de que a instalação dos equipamentos de escuta é recente. O delegado Macorin está relacionando o material apreendido e vai encaminhá-lo hoje ao Instituto de Criminalística, onde os equipamentos devem ser periciados. O delegado vai aguardar o laudo técnico para afirmar se conversas foram efetivamente monitoradas na Assembleia.
Os peritos também devem analisar a qualidade dos equipamentos, o tempo de uso, os possíveis fornecedores dos aparelhos e qual a abrangência possível da captação de áudio. Um dos principais focos da investigação é descobrir quem comprou, quem instalou e quem poderia monitorar as escutas. "Como estavam sem plaqueta de patrimônio, ao que parece, não foram adquiridos pela Assembleia", comenta o delegado.
A instalação de grampo e escuta ilegais e a encomenda do serviço são caracterizados como crimes previstos na Lei 9.296, de 1996. O crime tem pena prevista dois a quatro anos de prisão para o responsável. O delegado acredita que o trabalho de apuração deve demorar porque, além de depender de perícia técnica, vários depoimentos devem ser tomados. Funcionários do setor de limpeza, vigilância e manutenção da Assembleia devem ser convocados para prestar esclarecimento.



