Recife - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu ontem com irritação às acusações do DEM e do PSDB de que o governo federal estaria antecipando a campanha eleitoral para beneficiar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, provável candidata petista à Presidência da República no ano que vem. Lula respondeu duramente aos adversários, a quem atribuiu "um comportamento injusto e pequeno". E disse que Dilma vai continuar viajando pelo país para inaugurar obras do PAC. A realização de campanha eleitoral neste momento é considerada ilegal.
O PSDB e o DEM decidiram questionar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o encontro de Lula e Dilma com prefeitos realizado nesta semana em Brasília. Para a oposição, o governo usou o evento como palco para a ministra. O DEM também ingressará com uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) contra o governo por suposto uso indevido de imagem e recursos públicos para a realização do encontro. No TCU, a ação do DEM questionará a aplicação de cerca de R$ 253 mil na organização do evento.
Mãe do PAC
As declarações de Lula contra a oposição foram feitas após a visita do presidente ao primeiro projeto de aquicultura marinha do país, no Recife, Pernambuco. "Eu, sinceramente, acho isso uma coisa tão absurda, tão pequena. Uma pessoa só é candidata depois que acontece a convenção de seu partido, o que só ocorre no ano que vem", disse Lula. Ele ainda afirmou que a ministra está apenas trabalhando. "É a Dilma que trabalha aos sábados e domingos. É a Dilma que vai até as 3 horas da manhã. É ela quem acompanha cada obra, que conversa com cada prefeito e governador deste país, incluindo o Serra (José Serra, governador de São Paulo e provável candidato tucano à Presidência), sobre o andamento das obras do PAC. É ela que vai ao TCU. Foi ela quem eu denominei a mãe do PAC. Por isso a Dilma vai continuar viajando e acompanhando tudo de perto."
Lula aproveitou ainda para alfinetar democratas e tucanos ao questionar se os adversários "colocariam seus pré-candidatos em uma redoma, para evitar que viajassem pelo país". "Nós, do governo, estamos interessados em garantir que o trabalho ande, em fazer com que todas as obras do PAC sejam concluídas até o final de 2010. E eles? Qual será o motivo das viagens que os pré-candidatos deles estão fazendo? O nosso é claro: não estamos fazendo campanha. Quem tem interesse em fazer campanha são eles", afirmou.
Ao ser questionado diretamente sobre a candidatura da ministra em 2010, Lula evitou polemizar. "A Dilma é ministra e vai continuar trabalhando como ministra até que, se for aprovada para ser candidata, se afaste do cargo."
A ausência da ministra Dilma Rousseff no evento de ontem foi comentada por aliados e adversários. Em reserva, um parlamentar pernambucano ligado à oposição garantiu que "só foi ao evento para ver o clima de campanha". Já o ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), conhecido por seus pronunciamentos irreverentes, lamentou a "falta que a Dilma faz". "Ela é uma pessoa fantástica. Pena que teve que ir embora ontem. Mas não tem problema, fizemos um convite e ela disse que iria tentar vir para cá para brincar o carnaval. Será uma maravilha", garantiu. Dilma ontem estava no Rio Grande do Sul, onde participou da inauguração de obras do PAC na cidade de São Leopoldo.
Anteontem, a ministra havia tido uma extensa programação no Nordeste, que incluiu visita às obras da ferrovia Transnordestina e de duplicação da BR-101, no interior de Pernambuco. Por onde passou, Dilma foi o alvo principal de elogios de políticos aliados, integrantes do governo e empresários, além do assédio de populares.
Vice
Perguntado sobre as especulações de que haveria o interesse em convidar o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para ocupar a vaga de vice em uma eventual chapa encabeçada pela ministra Dilma, Lula foi discreto, mas deixou claro nas entrelinhas que o nome dele é uma das possibilidades.
