
O governo da Itália convocou ontem seu embaixador no Brasil de volta a Roma, em um claro sinal de protesto e de agravamento da crise provocada pela decisão do governo brasileiro de conceder asilo político ao ex-terrorista italiano Cesare Battisti. Na linguagem diplomática, a convocação de um embaixador é o penúltimo passo antes do rompimento de relações entre dois países. A decisão de chamar o embaixador foi tomada pela cúpula do governo italiano, com o envolvimento direto do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Os dirigentes italianos pretendem continuar a pressionar o governo brasileiro a rever a decisão de conceder status de refugiado político a Battisti. E ameaçam ainda dificultar um convite para que o Brasil participe do G8, o grupo dos países mais ricos do mundo. Atualmente, a Itália preside o G8.
A situação era tão tensa na Itália ontem que, durante o dia, o governo italiano ameaçou impor mais uma retaliação: pedir à seleção de seu país para cancelar a partida amistosa com a seleção do Brasil, marcado para 10 de fevereiro, em Londres. No final da tarde, o governo admitiu que isso era "apenas uma provocação". Mas políticos italianos pediram sanções comerciais a produtos brasileiros e sugeriram um boicote ao turismo no Brasil.
Justificativa
O governo italiano informou que a convocação de seu embaixador no Brasil é a primeira feita em décadas. A decisão se justifica, segundo a Itália, porque o Brasil está dando refúgio a uma pessoa condenada à prisão perpétua pela Justiça italiana, devido a quatro homicídios.
A convocação do embaixador foi decidida depois que a Procuradoria-Geral da República recomendou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que facilitasse a concessão de refúgio político e liberdade a Battisti. A Itália considerou "um escândalo" a decisão do procurador brasileiro, Antonio Fernando de Souza, de pedir o arquivamento do pedido de extradição.
"Após uma consulta com o primeiro-ministro (Berlusconi) sobre a grave decisão do procurador-geral Antonio Fernando de Souza, o ministro das Relações Exteriores (da Itália), Franco Frattini, convocou o embaixador italiano no Brasil, Michele Valensise, para consultas em Roma", afirmou o governo italiano, em nota. "(O parecer de Souza) foi uma decisão muito grave e francamente inaceitável", disse Frattini.
Na semana passada, o governo italiano havia solicitado ao STF vista do processo de extradição do ex-ativista. "A resposta (de Souza) saiu em apenas 48 horas sem objetivamente ter uma avaliação com aquela profundidade que esperávamos. Nos parece que simplesmente acataram a decisão política do ministro da Justiça brasileiro (Tarso Genro, que condeceu o asilo a Battisti). Esperávamos uma reflexão mais aprofundada", disse Frattini. "Battisti é um terrorista e não merece o status de refugiado político."
* * * * * *
Interatividade
O que você acha da reação da Itália à decisão brasileira de conceder asilo político a Cesare Battisti?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou comente abaixo.



