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A brutalidade do assassinato do menino João Hélio Fernandes Vieites, de seis anos, que preso ao cinto de segurança do lado de fora do carro foi arrastado por bandidos, e a própria frieza na atitude dos ladrões descrita pelo delegado titular da 30ª DP (Marechal Hermes, no Rio de Janeiro), Hércules Nascimento, deixaram a sociedade chocada. Para especialistas, a maneira como os jovens praticaram o crime mostra uma distorção de valores, resultante do ambiente em que vivem.

Segundo o psicanalista Sergio Cyrino da Costa, o ambiente e a formação são os principais responsáveis por estes jovens cometerem crimes. Ele diz que normalmente as pessoas são formadas em casa com um mundo de valores éticos que, posteriormente, será confrontado com a realidade. No entanto, o que deveria acontecer de maneira gradual é apresentado a esses infratores desde a infância.

- O que ele deveria viver aos 19 anos é mostrado aos três anos. Ele não adquire, assim, um senso de ética e morte. A vida é distorcida. É como se eles saltassem de um estágio infantil para um choque com a realidade adulta na qual não estão preparados. Eles não vivem o período de inocência da infância, passando diretamente para a crueza da vida adulta - explicou.

Como exemplo, o psicanalista cita o filme "Cidade de Deus" que mostra uma criança se envolvendo desde cedo com a criminalidade até se tornar o chefe do tráfico Zé Pequeno.

- O principal que a psicanálise pode dizer é que um motivo vem da pessoa e outro do ambiente. Eles não têm bons exemplos do que é bom ou mau, ficam confusos e são lançados na realidade. Crescem acostumados a vagar por aí. Vêem um cara transando com a mãe, crianças passando fome, gente gritando. Claro que o sujeito tem um componente do mal para construir esse monstro, mas se pode explicar muita coisa através do ambiente. Nós vivemos sobre valores, ética, regras dentro de casa, mas essas pessoas, às vezes, são soltas na rua - explica Sergio, lembrando que a vida para estes jovens é banalizada:

- A gente só consegue pensar na morte quando vamos envelhecendo e vendo as pessoas morrerem. Eles devem ter visto cadáveres até dizer chega. Para eles, há uma banalização da morte.

Sem amor e alegria

Deoclécio Francisco Assis Filho, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) do Centro, também cita o filme "Cidade de Deus" como exemplo do mundo em que estes jovens vivem.

- São menores criados desde cedo sem amor, com dificuldades, num meio em que a violência é uma banalidade, uma passagem comum da vida. Eles não têm alegria ou emoção. Não vivem como criança, amadurecem de maneira forçada e ficam insensíveis. Esses valores que temos, a sensibilidade, para eles é totalmente diferente. Não importa se você mata com um tiro ou arrastando alguém - afirmou.

Desvios inexplicáveis

No caso de Diego, que tinha um pai que revelou na sexta-feira sempre conversar com o filho e orientá-lo, além de irmãos, Sergio diz que ainda permanece um mistério para a psicanálise explicar certos desvios de caráter. No entanto, assim como no filme, o personagem Dadinho se mostra de má índole desde pequeno, ele acredita que há pessoas que são naturalmente ruins.

- A gente vê que não houve essa transmissão dos valores. Ele não conseguiu aproveitar o professor da escola, companhias dos colegas. No entanto, por mais que expliquemos, o meio, o crime, a coisa pode ser própria do sujeito. Freud já dizia há mais de cem anos que a ciência explicaria no futuro essa parte do instinto animal de uma pessoa. Existe um meio degenerado, mas existe também uma tendência da própria pessoa - teoriza lembrando que os heróis do jovem costumam ser criminosos:

- Os ídolos dessas pessoas são os bandidos, que têm dinheiro, podem comprar coisas. Existem teorias de psicopatia, transtornos de personalidade, mal caráter, hipóteses de que isso seja congênito. Pessoas que já são ruins e o meio só faz piorar.

Deoclécio diz que a maioria dos jovens que são levados para a sua unidade é acusada de furto e tráfico de drogas. Todos têm o mesmo perfil.

- O que os leva a cometer crimes são a falta de oportunidade, orientação, perspectiva, amor, esperança e família - afirma para, em seguida, elogiar a atitude do pai de Diego:

- Foi louvável, pois, na maioria das vezes, os pais acolhem, são omissos e não fazem nada para impedir o filho que está se iniciando nessa vida. Se o pai orienta e vê que não adianta, ele tem que procurar adotar medidas enérgicas como procurar a polícia, a vara da infância e não fazer como Pilatos e lavar as mãos.

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