
O laudo do Instituto de Criminalística do Paraná que afastou a possibilidade de interceptação clandestina nas salas ocupadas pela cúpula da Assembleia Legislativa deve mudar o foco da investigação da CPI dos Grampos. No laudo, obtido pela Gazeta do Povo, os peritos criminais são taxativos: os aparelhos achados na sala de reunião da presidência e na antessala do gabinete da primeira-secretaria não têm capacidade de interceptar conversas telefônicas.
Os aparelhos, encontrados durante uma varredura na sede do Legislativo em fevereiro, seriam bloqueadores de sinal de celulares. Isso não anula uma possível ilegalidade, já que a utilização desses equipamentos é proibida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) restringindo-se apenas ao sistema prisional. O único dispositivo que poderia servir como grampo telefônico foi descoberto na central telefônica do prédio da Assembleia.
De posse dessas informações, o deputado Marcelo Rangel (PPS), que preside a CPI, adiantou que a intenção da comissão agora é identificar e responsabilizar as pessoas que teriam instalado o grampo no PABX da Assembleia. "Tem muita coisa estranha ainda. Os seguranças tinham acesso a esta sala [do PABX] e chegaram a proibir a pessoa responsável pelo setor de telefonia de entrar lá. Por que esta proibição? O que queriam esconder?". As indagações levantadas pelo parlamentar são algumas das que ainda pairam sobre a descoberta dos equipamentos (veja quadro).
Apesar de superada a questão sobre a finalidade dos aparelhos, tanto Rangel quanto o relator da CPI, deputado Mauro Moraes (PSDB), concordam sobre a necessidade de uma acareação entre os peritos do Instituto de Criminalística e os da Embrasil empresa privada responsável pela varredura feita no prédio da Assembleia que resultou na descoberta dos equipamentos. Os peritos do Estado afirmam que os aparelhos não são eficientes para captar áudio. Os peritos da Embrasil, porém, disseram que os bloqueadores poderiam ser usados para interceptações. "Essas dúvidas técnicas terão de ser dirimidas nessa acareação, até para embasar o relatório da CPI", disse o tucano.
Além da acareação, as pessoas chamadas para prestar esclarecimento à CPI podem ser convocadas novamente por causa de afirmações contraditórios. É o caso do ex-diretor de assistência técnica Francisco Ricardo Neto. Foi ele quem providenciou a compra de três equipamentos que bloqueiam sinal de telefone celular por meio de licitação. De acordo com o relatório da Embrasil, os aparelhos adquiridos neste processo licitatório não são os mesmos encontrados na Assembleia. No depoimento à CPI, Ricardo Neto afirmou que a ordem para a compra dos bloqueadores partiu de Sérgio Monteiro, que era chefe de gabinete do deputado Nelson Justus (DEM), então presidente da Casa. Justus, por sua vez, negou a acusação em carta enviada à comissão. "Temos duas posições contraditórias. Eles podem ser chamados novamente", disse.



