
A operação Xepa, deflagrada nesta terça-feira (22), levou a Lava Jato a novos indícios de corrupção e desvio de verbas em obras públicas. Depois de fases direcionadas ao possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no esquema, o foco saiu da Petrobras e partiu para diversas obras de setores como óleo e gás, ambiental, e de infraestrutura ligadas ao governo federal, administrações estaduais e municipais.
PLANILHA: Lista de obras públicas suspeitas
COMO FUNCIONA: O departamento de propina da Odebrecht
Diferentemente do que vinha ocorrendo na condução das investigações até então – quando os indícios de desvio eram descobertos via contratos da Petrobras –, agora, os investigadores focaram no esquema estruturado dentro da empresa contratada, a Odebrecht.
Depois da deflagração da operação, em que outros diretores da construtora foram presos, a empresa anunciou que pretende colaborar com as investigações.
Segundo as investigações, havia uma estrutura interna na empresa para pagamento de propina para diversas escalas de poder. O esquema teria operado até novembro do ano passado – ou seja, mesmo após a prisão do seu presidente, Marcelo Odebrecht, em junho. Com isso, diversas novas obras passaram a ficar sob suspeitas.
“A operação de hoje [terça-feira] é a prova exatamente de que nós estamos combatendo a corrupção, seja qual ela for. Independentemente de partido, independente de governo, nós vamos colaborar com todas as investigações por todo o Brasil”, declarou o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Lima em coletiva de imprensa.
O procurador ressaltou que o foco da Lava Jato continua sendo a Petrobras, mas que, se forem encontrados indícios de corrupção em outras escalas de governo, as investigações serão encaminhadas às respectivas autoridades competentes. “Vamos encaminhar todas as provas na medida de sua coleta para os ministérios públicos e polícias dos estados”, disse.
Setor de distribuição de propina
“Ficou claro que a Odebrecht realmente tinha um setor que organizava, contabilizava, possuía hierarquia e alçada para pagamento de propina”, revelou Lima. Para desvendar o esquema, foram cruzadas planilhas com dados de possíveis entregadores e recebedores do dinheiro, com informações de hotéis e contratos de locação dos investigados, onde ocorriam as entregas. Também foram utilizadas como provas anotações do celular de Marcelo Odebrecht.
As planilhas foram apreendidas com a ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, presa da 23ª fase da Lava Jato. Ela firmou acordo de colaboração premiada com o MPF e ajudou a construir o organograma do setor de distribuição da propina da empresa. Maria Lúcia atuava no departamento há seis anos e era responsável por repassar as informações das planilhas de pagamentos para os entregadores, e depois receber deles os extratos para conferência.
Em meio as planilhas foram encontradas referências a diversas obras de setores como óleo e gás, ambiental, infraestrutura. Como ressaltaram os investigadores, as tabelas encontradas são de pagamentos efetuados em 2014 e 2015 e há indícios de destruição de dados anteriores a esta data. Em apenas uma das planilhas, a soma dos repasses chegou a R$ 69 milhões.



