Com a tendência cada vez maior de o PMDB ficar independente nas eleições deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente já definiu o vice: para mais de um interlocutor deixou claro que quer novamente o empresário mineiro José Alencar em sua chapa. Para um ministro petista, que chegou a abordá-lo recentemente sobre o tema, o presidente foi enfático:
- Se o Zé quiser, o lugar é dele. Para mim, ele é o nome ideal. Sempre foi leal. Não temos por que mudar.
Nem mesmo as constantes críticas de Alencar à política econômica parecem incomodar Lula. O que o ministro concluiu da conversa com Lula foi de que o presidente vai mesmo manter José Alencar na sua chapa presidencial, já que está com dificuldade de fechar aliança com o PMDB.
No núcleo do governo, a única forma de Alencar não ser vice, no cenário atual, é na hipótese de Lula conseguir trazer o PMDB para sua chapa. Esse é o sonho de Lula. Neste caso, ele teria que acomodar um nome peemedebista que poderia ser o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, ou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas, no Planalto, esta é considerada uma hipótese difícil no momento.
Por precaução, Lula já acertou com Alencar a saída dele do Ministério da Defesa, o que o deixa habilitado para ser o vice. Na conversa que os dois tiveram, Lula evitou fazer o convite. Quer ganhar tempo para consolidar o quadro eleitoral. Em uma conversa com um interlocutor, o próprio Alencar admitiu que estava deixando a Defesa para não ficar inelegível com o prazo de desincompatibilização.
- Hoje, eu não sou candidato. Mas se eu ficar no Ministério da Defesa, aí sim, não vou poder ser candidato - disse Alencar para um amigo.
Durante esse encontro, o vice comportou-se como candidato. Elogiou por diversas vezes o presidente Lula e disse estar confiante na reeleição do petista. Ao ser perguntado sobre a hipótese peemedebista, ele não se mostrou preocupado.
- Vários integrantes do PMDB se colocam como candidatos a vice. Mas eu nunca me coloquei nesta situação. Aliás, quem me convidou em 2002 foi Lula. Naquela eleição eu fui convidado por todos os outros candidatos - ressaltou Alencar nessa conversa.
Lula tem avaliado que Alencar é mesmo o melhor vice. Isso porque, além de ser empresário, é de Minas Gerais - segundo maior colégio eleitor - e agora conta com o apoio de parte significativa do eleitorado evangélico. Desde setembro, Alencar está filiado ao PRB, fundado pelo senador Marcelo Crivella (RJ), bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.
Ao GLOBO, Crivella confirma a intenção do partido em fechar aliança com Lula e manter Alencar para vice. Mas deixa claro que o discurso de Alencar para reduzir a taxa de juros será uma bandeira da campanha.
- Meu sonho é que o presidente Lula convide Alencar para ser vice. Podemos agregar, até porque o PRB é um partido com forte apoio evangélico. Agora, não queremos ministério e nem cargos. Queremos apenas uma nova "carta aos brasileiros" em que o governo tenha como compromisso a redução dos juros e o desenvolvimento - observa Crivella.
O senador chegou a conversar com Alencar e também perguntou se o vice já tinha conversado com Lula sobre o tema.
- Na situação atual eu sou a noiva: estou aguardando o convite - brincou Alencar, ao responder a Crivella.
Outro que já foi um forte candidato a vice, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) perdeu fôlego nas últimas semanas. Ele continua sendo um candidato reserva, até porque deve deixar o governo para um mandato de deputado federal pelo Ceará. Porém, Ciro é cada vez mais reserva, pois o PSB está dividido entre se amarrar a Lula e fazer todo tipo de aliança nos estados.
Ainda que prevaleça o desejo da cúpula do PSB de indicar o vice de Lula, o próprio presidente e o PT vão avaliar as vantagens dessa dobradinha e poderão chegar à conclusão de que seria como um sanduíche de pão com pão - Lula já está bem no Nordeste e Ciro não agrega qualquer setor importante do eleitorado.
