Apesar de ter feito um discurso de candidato na Confederação Italiana da Indústria (Confindustria), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em rápida entrevista antes de deixar Roma, disse que tem tempo para decidir se será candidato à reeleição em 2006 e que poderá esperar até o ano que vem para isso. Ele argumentou que não precisa ter pressa porque já é filiado a um partido e que apenas quem tinha que se filiar precisou tomar decisões até o último 30 de setembro - prazo dado pela legislação eleitoral para filiações partidárias um ano antes das eleições. O presidente disse que seu desafio é fazer o Brasil avançar cada vez mais.
- Não estou candidato. É uma decisão que não tenho nenhum interesse de tomar agora. Tenho tempo. Quem precisou se filiar a partido político teve que tomar a decisão até 30 de setembro. Posso esperar mais, posso esperar abril para tomar a decisão. Estou tranqüilo. Todo mundo sabe o que penso da reeleição. O meu problema agora é fazer com o que Brasil faça cada vez mais porque precisamos aproveitar esse bom momento - disse Lula.
O presidente já está a caminho de Moscou, na Rússia, sua última etapa da viagem a Europa, que começou dia 12.
Mais cedo, ao discursar na cerimônia de comemoração dos 60 anos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Lula disse que a fome tem que se transformar num problema político para ser resolvido efetivamente, e não apenas em discurso em momentos de campanha eleitoral. Lula disse ainda que os países mais pobres devem dar um exemplo ao mundo de honestidade e ética. A declaração ocorre dois dias depois de o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ter cobrado em Salamanca, Espanha, o combate à corrupção.
- Nos países mais pobres temos que dar exemplo de severidade, de honestidade e de ética para que possamos merecer os olhares solidários de milhões e milhões de seres humanos que muitas vezes gostariam de contribuir mas que têm medo de que o dinheiro não cumpra a finalidade para o qual foi doado - disse Lula.
O presidente foi aplaudido quando afirmou que a fome não é apenas um problema econômico, tecnológico ou de produção de alimentos:
- É um problema eminentemente político. E a fome no Brasil é acima de tudo um problema de exclusão social. Disso posso dar testemunho porque essa dura realidade aprendi da forma mais difícil, vivendo-a.
Lula fez questão de citar vários dados do programa Fome Zero, mas que na verdade tratam do programa Bolsa Família, como o fato de o programa já atingir 7,7 milhões de famílias. O presidente disse ainda que a fome é uma arma de destruição em massa.
- Ela mata mulheres, fetos, crianças e inocentes, que muitas vezes não aprenderam ainda nem a gritar que estão com fome. Esse desafio não é da FAO, não é meu, não é de nenhum de vocês, é de 6 bilhões de seres humanos - afirmou.
Na cerimônia, Lula recebeu a Medalha Agrícola por sua ação no combate à pobreza e à fome no mundo e reiterou a promessa dos países latino-americanos de acabar com a fome até 2020.



