
Rio de Janeiro - O presidente Lula reclamou ontem da imprensa, apenas quatro dias depois de a executiva nacional do PT ter redigido um documento com críticas à mídia. Durante a inauguração de um complexo esportivo na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Lula criticou as reportagens, publicadas ontem em vários jornais do país, sobre a participação da ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na inauguração de um hospital da Baixada Fluminense que não teve investimentos do governo federal o que teria dado a conotação de um evento eleitoral.
"A imprensa brasileira, por hábito ou desvio de comportamento, não fala de obra inaugurada. O que é bom, não presta. Só serve desgraça", afirmou Lula. "Estou perplexo de ter visto em um jornal que deram (sic) mais destaque à visita da dona Dilma a uma obra que não é do governo federal do que à importância do Hospital da Mulher", criticou. "Quando a pessoa, em vez de dar a informação, se preocupa em politizar de forma desinformada, e eu diria até de certo baixo nível, realmente o povo fica sem saber o que está acontecendo."
Lula ressaltou ainda que foram as parcerias entre a União e estado do Rio de Janeiro que permitiram a construção do Hospital da Mulher Heloneida Studart o motivo da reclamação presidencial.
Dilma, que estava com Lula, disse que a União participará da manutenção do hospital. "Tem sim (participação do governo federal). Até porque nós sabemos que o que é muito caro de fazer é manter o hospital funcionado. É pagar os médicos, garantir todo o atendimento, garantir os exames do laboratório, o que a gente chama de custeio", afirmou a ministra.
Em nota, o Ministério da Saúde e a Casa Civil informaram que a União vai arcar com R$ 50 milhões do custeio do hospital, em parceria com o governo do Rio. Apesar disso, o governo federal reconheceu que foi o estado do Rio quem bancou sozinho a construção do hospital, por R$ 40 milhões.
As críticas de Lula à imprensa ocorreram apenas alguns dias após a direção nacional do PT ter redigido, na última quinta-feira, uma nota condenando o que chama de "aliança da oposição neoliberal com setores da mídia de direita conservadora". A nota foi interpretada como uma reação às denúncias de que o ex-ministro José Dirceu teria feito lobby para favorecer uma empresa privada no futuro Plano Nacional de Banda Larga. Outra notícia que desagradou ao PT foi a da suposta participação do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, no escândalo do mensalão do PT. Pimentel será o coordenador da campanha de Dilma.
No fim de semana, outra denúncia foi publicada pela imprensa: a de que o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, desviou recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo para financiar a campanha de Lula à Presidência, em 2002 (leia mais sobre esse caso na reportagem da página ao lado).



