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Sciarra: organizando a bancada. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Sciarra: organizando a bancada.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Vai ou racha, sem segunda chance para o início do governo

Vai ou racha. É esse o clima em torno da votação do salário mínimo, que ocorre hoje, na Câmara Federal. Apesar de extremistas, as duas opções resumem bem o caminho que a presidente Dilma Rousseff vai trilhar durante sua gestão. Se a proposta de R$ 545 sair vitoriosa – o que é mais provável –, a petista sinaliza que consegue conduzir o Brasil com pulso firme, a despeito de sua inexperiência como líder política. Mas, caso os parlamentares aprovem um valor maior, vão mostrar que são mais suscetíveis às várias pressões que sofrem do que à orientação da presidente.

"Entre os presidentes eleitos, apenas Dilma conseguiu assumir já com uma ampla base governista. Por isso o pressuposto é que ela tem que vencer", opina Antonio Augusto de Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), órgão que monitora o Congresso.

O cientista político Rubens Figueiredo, diretor da Cepac Pesquisa e Comunicação, discorda deste clima de "oito ou oitenta" que domina os comentários a respeito do salário mínimo. "É evidente que nunca é bom perder, ainda mais em início de mandato. Mas uma pouco provável derrota estará longe de significar um apocalipse", afirmou ontem, em artigo na Folha de S. Paulo.

Queiroz, que atua no Diap desde a fundação do órgão, em 1983, diz que esta primeira votação relevante pode sim antecipar como será a administração de Dilma Rousseff. "Se o governo bancar os R$ 545 até o fim e perder, haverá grandes consequências. Mostra que não consegue ter controle so­­­bre sua base, mostra fragilidade."

O historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), também segue esse mesmo raciocínio. "Este é o primeiro grande teste no Par­­­lamento, e o governo está jogando todas as suas fichas. Mais importante do que a manutenção do salário e a discussão sobre uma diferença de R$ 15 é a vitória", observa. "Se o governo perder, si­­­naliza que estará sempre suscetível às pressões e não tem uma maioria confortável para votar assuntos relevantes ou emendas à Constituição."

O Diap, constituído por centrais sindicais, defende que o melhor caminho seria a negociação para se chegar a um valor intermediário para o mínimo. Segundo Queiroz, a vitória do governo, que deve ocorrer, não será completa, pois impõe uma derrota a importantes aliados, como as centrais.

Rosana Félix

Mesmo com vitória, votação do mínimo vai desgastar Dilma

A presidente Dilma Rousseff (PT), ao que tudo indica, vencerá hoje a primeira prova de fogo de seu governo: aprovar na Câmara dos Deputados o salário mínimo deR$ 545 e impedir um reajuste maior, que poderia comprometer o esforço de ajuste fiscal para conter a inflação. Para conseguir a aprovação, ela acionou o "rolo compressor" ao ameaçar aliados com o corte de emendas parlamentares e com a recusa de aceitar indicações para cargos do 2.º e 3.º escalões.

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No que depender da bancada paranaense, o governo Dilma Rousseff (PT) não terá problemas na votação do reajuste do salário mínimo na Câmara dos Deputados. Dentre os 30 parlamentares do estado, 17 declaram que vão apoiar a proposta do aumento para R$ 545 defendida pela presidente. Dez dizem que vão tentar aprovar um valor maior e três ainda não se definiram – esperam por decisões finais de seus partidos.Todos os representantes do Paraná foram ouvidos pela Gazeta do Povo entre segunda-feira e ontem. Apenas Edmar Arruda, do governista PSC, afirmou que se decidiu sem seguir o posicionamento da legenda. Ele informou que vai votar pelo aumento de R$ 560 proposto pelo DEM.

"Vou votar com o governo naquilo com o que eu me identifico. Nesse caso, o voto é individual. Aliás, o próprio governo sempre defendeu um salário mínimo com ganho real para o trabalhador", justificou Arruda, que acaba de assumir o primeiro mandato.

Mesmo integrando a base aliada, o PSC não havia fechado questão sobre a votação até ontem à noite. A tendência natural era de que a sigla apoiasse a proposta de R$ 545. Entre os outros três paranaenses da legenda, Hidekazu Takayama e Nelson Padovani disseram que estão com o governo, enquanto Ratinho Júnior ainda não se definiu – os outros dois indecisos do estado são Fernando Giacobo (PR) e Leopoldo Meyer (PSB).

Principal foco de tensão para o governo no plano nacional, o PMDB não promete surpresas no Paraná. O partido tem seis deputados no estado e todos declararam estar comprometidos com a decisão da cúpula nacional, com aval do vice-presidente Michel Temer, de apoiar os R$ 545. "O problema de um aumento maior é o comprometimento das contas da Previdência. Temos que ser responsáveis", disse o peemedebista João Arruda.

Já Hermes Parcianello e Moacir Micheletto disseram que ficariam do lado da bancada independentemente do valor estipulado. "Se for costurado algo acima dos R$ 545 eu apoio também. Mas vou votar com o que o partido decidir", afirmou Parcianello.

Não há surpresa também entre os paranaenses da oposição. Os três deputados do PSDB (Alfredo Kaefer, Fernando Fran­­cischini e Luiz Nishimori) e os dois do PPS (Rubens Bueno e Sandro Alex) defendem a proposta de R$ 600, bandeira da candidatura a presidente do tucano José Serra. "Estamos falando desse valor desde a campanha, não faz sentido mudar. E se o Serra tivesse sido eleito, quanto seria o mínimo pedido pelo PT: R$ 700, R$ 800?", avaliou Francischini.

Já a proposta intermediária defendida pelo DEM, de R$ 560, conta com o apoio dos três deputados do partido (Abelardo Lupion, Eduardo Sciarra e Luiz Carlos Setim) e de Rosane Ferreira (PV) – além de Edmar Arruda. "Tenho a impressão de que o governo já armou o terreno para passar um rolo-compressor, com ameaças e tudo mais contra os partidos dissidentes da base. Mas nós vamos fazer a nossa parte de defender uma alternativa de R$ 560, que por sinal é bastante viável", declarou Sciarra.

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