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Maioridade penal vai desaguar no STF com chance de julgamento imprevisível

Deputados contrários à redução devem acionar a Corte para travar a tramitação do texto. Tendência é de julgamento apertado

Protesto na Câmara Federal contra a redução da maioridade penal: tema divide opiniões. | Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Protesto na Câmara Federal contra a redução da maioridade penal: tema divide opiniões. (Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados)

A discussão sobre a redução da maioridade penal acaba de passar por uma barreira histórica na Câmara dos Deputados, mas ainda tem um longo caminho dentro do Congresso e, em paralelo, dependerá decisivamente da posição do Supremo Tribunal Federal (STF). Deputados contrários à proposta prometem apresentar nos próximos dias um mandado de segurança à Corte para travar a tramitação do texto.

Pela atual composição de ministros, a tendência é de mais um julgamento apertado – repetindo a divisão presenciada em casos como o mensalão, a validade da Lei da Ficha Limpa e do poder de investigação do Conselho Nacional de Justiça.

Na terça-feira (31), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara decidiu, por 42 votos a favor e 17 contra, que a diminuição da maioridade de 18 para 16 anos é constitucional. Em fevereiro de 2014, a CCJ do Senado havia rejeitado uma proposta similar, por 11 a 8. O texto aprovado segue agora para uma comissão especial e, depois, precisa ser aprovado em dois turnos pelos plenários da Câmara e do Senado.

No meio desse caminho, está o STF. O vice-líder do PT na Câmara, Alessandro Molon (RJ), encabeça um grupo de parlamentares de diversas legendas que defende a apresentação de um mandado de segurança ao tribunal. A ação deve incluir um pedido de decisão liminar, que pode ser tomada monocraticamente pelo ministro-relator e que bloquearia o avanço da proposta até uma análise em definitivo pelo plenário do Supremo.

Se o mandado de segurança não surtir efeito e o texto for aprovado pelo Congresso, o STF pode ser novamente acionado por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade, de autoria, por exemplo, de algum partido. A base de ambas ações é a tese de que a maioridade seria uma cláusula pétrea da Constituição.

“A judicialização desse tema, por um caminho ou outro, parece inevitável”, diz a coordenadora do Núcleo de Constitucionalismo e Democracia da UFPR, Vera Karam Chueiri.

Julgamento apertado

Professor emérito de Direito Constitucional da Universidade Mackenzie e conhecedor da trajetória de vários dos atuais ministros do STF, o jurista Ives Gandra Martins prevê um julgamento apertado. “Com base em declarações e textos que cada um já publicou, diria que os ministros Teori Zavascki e Marco Aurélio Mello têm uma tendência a julgar que não é cláusula pétrea”, diz. Na quarta-feira (1), Marco Aurélio confirmou que “de início, pensa assim”, mas que estava “aberto à reflexão”.

Do outro lado, o jurista diz acreditar que pelo menos três ministros que militavam na área constitucional antes de serem nomeados votariam pela inconstitucionalidade da mudança – Luís Roberto Barroso, Celso de Mello e o atual presidente, Ricardo Lewandowski.

As interpretações dos demais cinco (Cármen Lúcia, Rosa Weber, José Antonio Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Luiz Fux) não estariam definidas, o que abriria margem até para um empate. O posicionamento dos ministros norteia inclusive a apresentação do mandado de segurança pelos deputados, que temem que a ação caia nas mãos de um nome declaradamente contra a tese da cláusula pétrea.

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