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Em depoimento divulgado nesta sexta-feira (30) pela Comissão da Verdade do Rio, o coronel reformado Paulo Malhães, morto em abril, disse ter sequestrado um guerrilheiro argentino do grupo Montoneros durante a ditadura militar. Segundo o oficial, o estrangeiro foi capturado após desembarcar no aeroporto do Galeão, no Rio. Depois, teria sido dopado e embarcado de volta para a Argentina, onde era procurado pela repressão.

Malhães não informou a data do sequestro ou o nome do guerrilheiro, que embarcou em Buenos Aires e estaria a caminho da Venezuela ao ser preso no Brasil. Ele disse ter relatado o caso ao presidente Emilio Garrastazu Medici, que governou o país entre 1969 e 1974. Em parte deste período, até maio de 1973, a Argentina também viveu sob uma ditadura. Os militares voltariam ao poder em 1976.

Segundo o relato do coronel, Medici o chamou para cobrar explicações sobre o sequestro. "O presidente me chamou: 'Malhães, qual foi a cagada que você fez aí, sequestrou um argentino importante?'. 'Eu Sequestrei, eu realmente sequestrei. Mandei de volta para a Argentina'", disse o militar. Ainda de acordo com o relato, o argentino foi dopado, engessado e embarcado de volta para seu país em ema maca. Questionado sobre o destino que ele teve depois, Malhães foi lacônico: "Não sei."

Operação Condor

Para a Comissão da Verdade do Rio, a ação fez parte da chamada Operação Condor, cooperação entre as ditaduras de Argentina, Brasil e Chile para perseguir presos políticos nas décadas de 1970 e 1980. "Isso pode ajudar a esclarecer um capítulo importante da repressão política, a colaboração entre as ditaduras na Operação Condor", disse o presidente da entidade, Wadih Damous.

De acordo com o relatório da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, do governo federal, ao menos três argentinos desapareceram no Brasil, mas em 1980: Horacio Campiglia, Monica Binstock e Jorge Oscar Adur. Malhães depôs à Comissão da Verdade do Rio em fevereiro. Ele também narrou sua passagem pela Guerrilha do Araguaia, mas se recusou a informar nomes de presos e o que foi feito com eles.

Damous ressalvou que a comissão não tem condições de confirmar a veracidade do relato do militar. "Nós não assinamos embaixo do depoimento do Malhães. Só a abertura dos arquivos das Forças Armadas poderá mostrar o que é falso e o que é verdadeiro."

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