
Os seis ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que já votaram no processo do mensalão consideraram culpados, por unanimidade, quatro réus envolvidos em desvios de recursos do Banco do Brasil (BB). O número de votos atingido ontem forma a maioria necessária para condenar o ex-diretor de marketing do BB Henrique Pizzolato e os ex-sócios das agências de publicidade DNA e SMP&B Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach.
O STF tem onze ministros e, com os seis votos, em tese os quatro já estão condenados a não ser que algum ministro que já deu seu parecer mude de voto, o que é possível mas pouco provável.
Também já houve consenso pela absolvição de Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que era suspeito de peculato (apropriação de dinheiro público). Já a situação do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), que faz parte do primeiro núcleo do mensalão a ser julgado, permanece aberta e deve ser decidida na sessão de amanhã. O placar está quatro a dois pela condenação do petista.
Desvio do BB
Na avaliação dos ministros, Pizzolato e os três ex-sócios das agências cometeram o crime de peculato pela retenção de R$ 2,9 milhões em "bônus de volume" (comissões pagas por veículos de comunicação à DNA que deveriam ter sido repassadas ao BB). Também foram considerados culpados pelo desvio de R$ 73 milhões do fundo Visanet, ligado ao banco. Pizzolato também foi considerado culpado do crime de corrupção passiva pelo recebimento de R$ 326 mil do trio que, por sua vez, foi condenado por corrupção ativa devido a esse pagamento.
As irregularidades em contratos do BB são um dos dois pontos do processo avaliado até agora pelos ministros. O outro diz respeito a desvios em contratos da SMP&B com a Câmara dos Deputados na época em que a Casa foi presidida por João Paulo Cunha (2003-2005).
De acordo com o relator da ação, Joaquim Barbosa, o deputado teria operado a favor da contratação da SMP&B e autorizado que a Câmara realizasse pagamentos de R$ 10,7 milhões para a SMP&B, dos quais apenas R$ 17 mil cobriram serviços prestados diretamente pela empresa.
Além disso, a mulher do parlamentar petista, Maria Regina Cunha, recebeu R$ 50 mil em uma agência do Banco Rural em Brasília, supostamente como propina dos publicitários destinada ao marido. Até agora, há dois votos pela absolvição de Cunha e os três ex-sócios nesse tópico (do revisor Ricardo Lewandowski e de José Antonio Dias Toffoli) e quatro pela condenação (Barbosa, Rosa Weber, Luiz Fux e Carmen Lúcia).
Os votos
Ontem, a ministra Rosa Weber foi a primeira a votar. Inicialmente, disse que só em outra fase do julgamento vai se pronunciar sobre as acusações de lavagem de dinheiro que, no capítulo do processo em análise, atingem Pizzolato e Cunha.
Fora isso, somente não concordou com o relator em um ponto. Para ela, Cunha não cometeu peculato ao subcontratar o jornalista Luiz Costa Pinto por meio da SMP&B para trabalhar para ele como assessor de imprensa na época em que foi presidente da Câmara.
Luiz Fux e Carmen Lúcia seguiram integralmente o voto de Joaquim Barbosa e pediram condenações para todas as denúncias analisadas até agora. Fux declarou que ficou surpreendido com a troca de versões sobre o repasse de R$ 50 mil para Cunha. "Não se recebe um valor assim com essa simplicidade."
José Antonio Dias Toffoli seguiu integralmente o voto de Lewandowski, que absolveu todos os acusados de desvios nos contratos da Câmara. Antes de assumir uma cadeira no STF, em 2009, Toffoli assessorou a liderança do PT na Câmara dos Deputados (1995-2000), trabalhou com o então ministro José Dirceu na Casa Civil (2003 a 2005) e foi advogado-geral da União no segundo mandato do ex-presidente Lula (2007-2009). "Nenhuma prova foi produzida determinando que o réu [Cunha] tivesse conhecimento que os R$ 50 mil vinham da SMP&B e não do PT", disse Toffoli.




