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O desalento dos petistas com a crise política que envolve o partido e o governo é muito grande. Cerca de 15 deputados do bloco de esquerda do partido fizeram discursos emocionados no plenário da Câmara na tarde desta terça-feira e alguns foram às lágrimas. Na CPI dos Correios, mais demonstração de desapontamento com o partido. O líder do PT no Senado, Aloízio Mercadante (SP), desabafou que nunca foi informado por seus companheiros sobre as negociações de pagamento por caixa dois da sua campanha em 2002 e se disse triste e perplexo.

O deputado Paulo Delgado (MG) acha que o PT deve um pedido de desculpas aos parlamentares que puniu por divergirem das opiniões do governo.

- O PT tem que pedir desculpas às pessoas que expulsou e puniu por opiniões - disse Paulo Delgado, acrescentando:

- A política está em tudo, mas não é tudo. Está ficando insustentável conhecer o preço da nossa vitória.

Os deputados Orlando Desconsi (RS), Chico Alencar (RJ), Doutor Rosinha (PR), Luiz Bassuma (BA) e Walter Pinheiro (BA), entre outros, caíram no choro durante os discuros no plenário. Eles cobraram explicações da direção do partido e leram uma nota em que expressam "seu veemente repúdio ao criminoso esquema de financiamento de campanha progressivamente revelado após sucessivos depoimentos nas CPIs, sobretudo nessa data". Diz também a nota que "tais procedimentos afrontam a ética no política, traem a esperança de mais de 52 milhões de votos concedidos em 2002 e frustram a realização dos verdadeiros compromissos assumidos pelo PT em sua trajetória".

Os parlamentares também cobraram uma postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise e das suspeitas de caixa dois na eleição presidencial de 2002.

- O que nós vamos dizer a nossa militância? Esperamos que Lula diga à Nação tudo o que sabe ou que faça os que sabem dizerem. Nós não pactuamos com isso - disse o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP).

O deputado Nazareno Fontelles (PT-PI) contou que o grupo tinha saído de uma reunião com o presidente do PT, Tarso Genro, com alguma esperança de dias melhores, que foram abaixo depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios.

- Nós tivemos hoje uma reunião com o presidente do PT, foi uma conversa sincera, saímos de lá com fiapos de esperança, íamos nos reunir à tarde, quando recebemos esses depoimentos que estraçalharam essa esperança. É um réquiem (ofício dos mortos) do nosso partido - afirmou.

O deputado Orlando Desconsi (PT-RS) cobrou que os envolvidos nas irregularidades reconheçam seus erros.

- Em prantos, e com muita dor no coração de quem dedicou sua vida ao partido, queremos dizer que não demos aval ao que fizeram com nossa legenda. O único gesto de hombridade que esperamos é que admitam seus erros - disse.

O grupo exigiu a convocação do diretório nacional do partido para tomar medidas enérgicas contra os envolvidos nas denúncias, pediu o afastamento de todos os parlamentares cujos nomes constam da lista de sacadores das contas das empresas de Marcos Valério, suposto pagador do mensalão, e dos integrantes de CPIs que teriam dado falso testemunho. O grupo também anunciou que entregará todas as vice-lideranças do partido. O deputado Ney Lopes (PFL-RN), que assistia a tudo, não perdeu a oportunidade para provocar os adversários.

- Estamos assistindo ao velório do PT.

MERCADANTE - Após a revelação pelo publicitário Duda Mendonça, que em depoimento na CPI dos Correios admitiu ter recebido R$ 15,1 milhões das contas de Marcos Valério como pagamento de dívidas que o PT tinha com ele, o senador Aloizio Mercadante desabafou:

- Jamais soube da história que está sendo contada aqui. Jamais negociei qualquer contrato (de publicidade), valores ou pagamento no exterior. Para mim, o custo era aquele que estava declarado. Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) nunca me contou a verdade. Minha única dificuldade é saber de tudo isso pela televisão e pela CPI. Minha única tristeza nesse episódio é, depois de dois anos e meio, os companheiros não terem me contado nada é só ficar sabendo dos fatos nesta situação - disse Mercadante.

E completou, em tom de desabafo, referindo-se aos campanheiros de partido:

- Vocês nunca discutiram comigo valor de contrato, Marcos Valério. Nunca. Apesar de tudo, eu quero saber toda a verdade.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), também na CPI, disse que passou mal e que se sentia desconfortável com toda a situação envolvendo o nome do partido.

- É muito difícil e muito duro estar aqui fazendo essa investigação - reconheceu.

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