O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), segundo-vice-presidente do Senado, anunciou nesta segunda-feira que a tendência é que a Mesa Diretora aceite a terceira representação contra Renan Calheiros (PMDB-AL), desta vez por supostamente utilizar "laranjas" para esconder a propriedade de uma empresa de comunicação em Alagoas. A reunião, primeiramente marcada para esta terça, foi adiada para quinta, para que haja tempo de Renan ser notificado.
- A tendência é aceitar. A lógica indica que será encaminhada ao Conselho de Ética. De acordo com a resolução que trata do assunto, não resta alternativa. É uma questão de natureza formal - disse.
O tucano será o responsável por presidir a reunião da Mesa, já que Renan se considerou impedido e o primeiro-vice-presidente Tião Vianna (PT-AC) não estará em Brasília.
Segundo Álvaro Dias, a entrevista da revista "Veja" com o usineiro João Lyra, com quem Renan teria a sociedade secreta, em que o empresário e hoje desafeto do presidente do Senado confirma as denúncias, é um elemento novo que "certamente será considerado no julgamento" da Mesa Diretora.
O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), disse nesta segunda-feira que vai aguardar até terça para que os senadores Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) decidam se aceitam ou não a relatoria da segunda representação contra Renan no conselho: a que diz respeito às acusações de que o presidente do Senado teria favorecido a cervejaria Schincariol. Até agora, Casagrande, Serrano e Almeida Lima não disseram se aceitam o pedido de Quintanilha, limitando-se a pedir o prazo até terça.
Tuma vai convidar João Lyra a prestar esclarecimentos
Neste domingo, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), informou que vai convidar o usineiro João Lyra para prestar esclarecimentos sobre sua denúncia de que teve uma sociedade secreta com o presidente do Senado, Renan Calheiros . O negócio incluía a compra de uma emissora de rádio e de um jornal em Alagoas, que mais tarde deu origem à JR Radiodifusão.
Em entrevista à revista "Veja" deste fm de semana, João Lyra disse que Renan não quis aparecer e que, por isso, pediu que o negócio fosse colocado em nome de laranjas. Segundo a assessoria de Tuma, ele espera que João Lyra aceite comparecer no Senado, se possível ainda esta semana, para confirmar ou não as declarações sobre Renan, hoje seu adversário político.
Renan negou que tenha sociedade com João Lyra. Em entrevista à "TV Gazeta", ele disse que as afirmações do usineiro são falsas e que a reportagem demonstra uma "campanha eleitoral sem provas" contra ele.
O senador disse ainda, que, "na hora certa", vai responder às acusações e que tem rebatido "todas as mentiras" com documentos.
Durante a semana, Renan também negou ter aprovado diretamente novas outorgas à rádio JR Difusora, de sua família. Ele afirmou que as concessões eram analisadas pelas comissões técnicas do Senado.
Renan já responde a um processo no Conselho de Ética. Ele é acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da Mendes Júnior, e de apresentar documentos falsos para comprovar seus rendimentos. O relator Renato Casagrande (PSB-ES) esperar votar o caso em até 20 dias .
Lyra estaria disposto a comparecer no Senado
Pessoas próximas a João Lyra estão seguras de que não há nada contra o empresário alagoano em relação à sociedade secreta dele com Renan e ao uso de laranjas. Essas fontes disseram que Lyra jamais ocultou seu nome à frente das empresas e asseguraram que ele tem lastro de sobra para a compra das empresas de comunicação. Lyra tem R$ 250 milhões de Imposto de Renda declarados, disseram.
Lyra está disposto a comparecer ao Senado, segundo interlocutores, mas quer evitar troca de acusações com Renan para não reforçar os argumentos do adversário de que se trata apenas de uma briga regional.
- Renan vai querer usar uma cortina de fumaça, puxar a briga para Alagoas e tirar o foco do Senado - disse uma fonte próxima a João Lyra.
Renato Casagrande também acha que o comparecimento de Lyra é inevitável:
- Acredito que João Lyra será convocado de qualquer maneira e isso complica a situação de Renan Calheiros, mesmo levando em conta que há interesses locais, do estado.
Casagrande lembrou que o Conselho de Ética sequer recebeu oficialmente a nova representação contra Renan, que trata dessa questão das emissoras de rádio e o do uso de laranjas. Há ainda a representação que trata de empresa da família vendida à Schinchariol.
Senadores da oposição dizem que denúncias são graves
Para o DEM, a situação política do presidente do Senado é cada vez pior. A convocação do Lyra já era defendida pelos senadores da oposição.
- É complicação total para o senador Renan. O Conselho de Ética vai ter que chamar João Lyra para depor - disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), se Lyra comprovar o que disse, as denúncias serão ainda mais graves para Renan.
- Você ter concessão de rádio não é problema. Agora, comprar com dinheiro cuja origem é indefinida, é muito grave. Se João Lyra confirmar as declarações e tiver como provar, é mais grave ainda. Por enquanto, é a palavra de Renan contra a de João Lyra. Por isso, é preciso que João Lyra apresente provas e que se faça um levantamento dessas provas - disse Agripino.
Aliado de Renan, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), minimizou as declarações de Lyra, lembrando que ele é inimigo político de Renan:
- Não dá para exportar uma briga local para o cenário nacional. O Conselho de Ética precisa é cobrar da PF a questão da perícia e, a partir daí, fazer o relatório e pronto.
Já o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha, desconversou sobre as denúncias de Lyra.
- Essa representação (sobre as emissoras de rádio) ainda nem chegou ao Conselho.



