Brasília - Depois de enfrentar uma série de acusações por quebra de decoro parlamentar publicadas pela imprensa, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), discursou ontem afirmando que a mídia é "inimiga" das instituições democráticas representativas da sociedade. O discurso, em plenário, foi feito na sessão de homenagem ao Dia Internacional da Democracia.
Para Sarney, a existência do parlamento é fundamental para haver democracia e observou que atualmente existe um conflito sobre quem é o representante do povo: o parlamento ou a mídia. Sarney não citou em nenhum momento que uma mídia livre, com liberdade de crítica, também é considerada como um dos pilares das democracias modernas, justamente pela função de fiscalização do poder público. O presidente do Senado também não lembrou que sua família é proprietária de meios de comunicação no Maranhão.
Tecnologia
"A tecnologia levou os instrumentos de comunicação a tal nível que, hoje, a grande discussão que se trava é justamente esta: quem representa o povo? Diz a mídia: somos nós; e dizemos nós, representantes do povo: somos nós. É por essa contradição que existe hoje, um contra o outro, que de certo modo a mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas. Isso não se discute aqui, não estou dizendo isso aqui, estou repetindo aquilo que, no mundo inteiro, hoje se discute", afirmou o presidente do Senado.
Sarney ainda fez críticas veladas à transparência dos governos e da Justiça. Disse que a diferença entre os três poderes é que, enquanto o Executivo e o Judiciário tomam decisões solitárias, "o Legislativo o faz às claras".
"Isso é uma das fontes pelas quais somos sujeitos a essa crítica diária, porque nós tomamos as decisões todas aqui, à luz do dia. Quer dizer, ela começa e termina com o povo assistindo, a nação assistindo, e isso serve de uma crítica permanente", disse o presidente. "Não é por acaso que, em frente a esta Casa, se realizam os protestos, as demandas, os apelos e as pressões."
Recentemente, Sarney foi alvo de 11 ações no Conselho de Ética que o responsabilizavam pela edição de centenas de atos secretos editados no Senado para contratar parentes de senadores, aumentar rendimento de servidores e criar cargos sem conhecimento público. As ações foram arquivadas.
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