
A internet ovacionada pelas possibilidades de acesso à informação tem se mostrado uma face inimiga do debate político. Discussões on-line entre lados opostos no espectro ideológico têm tido pouca conversa e muito ataque tendência que deve se acirrar na campanha eleitoral em função da militância virtual em defesa de candidatos.
"O uso da internet para campanha eleitoral é algo que deve ganhar ainda mais força neste ano", diz Thiago Tavares, professor de direito da informática e diretor da ONG SaferNet. Segundo ele, já há "verdadeiros exércitos" de candidatos para fazer guerrilha eletrônica nas redes sociais. "Não é um privilégio de um grupo político. Todos adotaram essa sistemática."
Os grupos buscam influenciar internautas jovens e indecisos. A característica comum dessas militâncias é usar um discurso radical e agressivo o que afasta o cidadão interessado do debate político. "O cidadão nem encontra espaço [para dialogar], pois há um patrulhamento ideológico e isso enfraquece o debate", aponta Tavares.
A tática de guerrilha eletrônica, porém, não é admitida publicamente pelos partidos. Mas as siglas dos três principais pré-candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) reconhecem que treinam filiados e simpatizantes para atuar na internet. "Nós damos bagagem a eles para responder às falsas acusações. Antes o militante estava nas ruas; agora está na internet", diz Alberto Cantalice, responsável pelas redes sociais do PT.
Feitiço
Embora a guerrilha on-line na maioria das vezes seja anônima, a descoberta da relação dela com um candidato pode ser péssima para sua reputação. "Se a manipulação de informações e imagens é descoberta, o feitiço vira contra o feiticeiro", diz André Telles, especialista em marketing digital.
Esse tipo de estratégia deve gerar também uma corrida aos tribunais. "Haverá uma tentativa de manter a honra, de limpar a imagem daquele que for atacado. E a legislação ainda é anacrônica nesse sentido", reclama Thiago Tavares, da SaferNet. O que deve prevalecer nesse sentido é o Marco Civil da Internet, legislação que mostra que o conteúdo deve ser removido com ordem judicial. "O Judiciário vai ter de equilibrar o direito à informação e direito individual, de personalidade, à honra e imagem de uma pessoa", comenta a professora de direito digital da PUCPR, Sheila Leal.
Para o cidadão que vê essa batalha, o essencial é buscar informação antes de repetir ou compartilhar algo sobre candidatos, embora a tentação de reproduzir o material seja grande. "Se a origem da mensagem não for de um meio confiável ou que você tenha certeza de que existe e tem boa reputação, é melhor desconfiar", resume Telles.



