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Ditadura

Militares planejaram outro atentado como o do Riocentro

O ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante militar do Planalto, o general Newton Cruz, disse em entrevista que os militares planejavam na década de 80 um novo atentado nos moldes do Riocentro, que ocorreu em 30 de abril de 1981. A declaração foi feita ao programa "Globo News Dossiê", da Glo­­­boNews. O Riocentro marcou o ápice da violência da ditadura contra movimentos de esquerda.

"Agora tem o seguinte: tempos depois [do Riocentro], recebi a informação de que havia um grupo lá no DOI (Destacamento de Operações e Informações) tentado fazer coisa parecida [ao atentado do Riocentro]", disse ele. "Era da mesma natureza [atentado à bomba]."

Na entrevista, Cruz afirma que impediu esse segundo atentado que seria cometido por militares. "Isso não pode. Pela primeira vez saí da minha função. Disse: eu vou pessoalmente acabar com isso. Pedi para marcar encontro com dois elementos do DOI-Codi."

Segundo ele, o encontro com esses dois militares ocorreu num hotel do Leme, no Rio de Janeiro. "Me encontrei com um tenente da Polícia Militar e um sargento. E falei: aconteceu isso no Riocentro e tive a informação de que estão com intenção de coisa parecida. Digam a seus companheiros que estiveram comigo e que se acontecer qualquer coisa parecida vou denunciar. Não houve mais nada. Acabou com bomba."

Questionado sobre os motivos de revelar só agora o plano desse segundo atentado, ele respondeu: "Porque saiu agora. Porque agora falei, de repente."

Frustrado

Militares que estavam dentro de um Puma estacionado no centro de convenções do Rio manuseavam uma bomba, que explodiu. Era noite e ocorria um show de música em comemoração do Dia do Trabalho. Minutos após a explosão no Puma, outra bom­­­ba danificou a casa de força do Riocentro. No Puma, estavam dois militares que serviam ao DOI, o braço militar da re­­­pres­­­­­são: o sargento Guilher­­­me Pereira do Rosário, que morreu na hora, e o capitão Wilson Ma­­­chado, que ficou gravemente ferido.

Cruz diz que falou com militares que participaram apenas da segunda explosão no Rio­­­­centro, que ocorreu perto da casa de força do local do evento. "A ideia não é matar ninguém. Era moda bomba em banca de jornal. Era jogar uma bombazinha lá fora, nas imediações. Era um ato presença: nós estamos aqui, vocês estão aí no evento de comemoração do 1.º de Maio. Não era [intenção matar] ninguém. (...) [Falei a um dos oficiais]: Vai, mas joga a bomba mais afastada. E ele saiu com o grupo, foi junto para assegurar que a bomba seria jogada fora [do Riocentro]. (...) E realmente a bomba foi jogada afastada, nas imediações da casa de força. não ia incomodar ninguém. (...) Então não posso fazer mais nada, segui para casa. Quando fui pra casa e liguei a TV é que soube da bomba que tinha ex­­­­plodido [dentro do Puma]."

Questionado sobre os motivos de não ter tentado impedir, ele respondeu: "Eu podia tentar o que? (...)nterceptar quem? (...) Ninguém sabia onde a bomba seria jogada."

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