
A morte do deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR), 69 anos, deve sensibilizar os parlamentares no Congresso Nacional e mobilizar a bancada ruralista para votar as alterações no Código Florestal. O tema foi um dos principais assuntos comentados nesta terça-feira (31), durante o velório do parlamentar, que morreu na segunda (30) em um acidente de carro na rodovia PR-239, entre Toledo e Assis Chateaubriand, no Oeste do Paraná.
O corpo do deputado foi enterrado no início da noite de terça, no Cemitério de Toledo, em cerimônia com a presença de mais de 500 pessoas, entre elas o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT).
IMAGENS: Veja fotos do velório de Moacir Micheletto e do deputado na Câmara
MAPA: Veja a localização aproximada do ponto do acidente
PERFIL: Deputado era ligado à agricultura e representava o Oeste do estado
Micheletto era um dos parlamentares que integravam a bancada ruralista, conhecida por defender os interesses de grandes agricultores no Congresso. Na eleição de 2010, ele recebeu 121 mil votos e chegou ao sexto mandato. O parlamentar deixa mulher e três filhos. Um neto deve nascer nesta semana. A vaga de Micheletto deve ser assumida pelo suplente imediato do PMDB, Odílio Balbinotti, também ligado à agricultura.
O parlamentar paranaense foi um dos principais articuladores das discussões para alterar o atual Código Florestal. O projeto é tema prioritário para o governo federal e deve ser votado pela Câmara dos Deputados até março. O texto já tinha sido aprovado pela Câmara no ano passado, ma,s na votação no Senado, sofreu alterações e agora depende de uma nova votação dos deputados.
O presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB-SP), que compareceu ao velório de Micheletto em Assis Chateaubriand, disse que a morte do parlamentar deve mobilizar o Congresso para votar o Código. "Todos vão lembrar com muita saudade, especialmente quando entrar em votação o Código Florestal. Micheletto foi daqueles que, ao lado de tantos outros companheiros, trabalhou intensamente pela aprovação. Haverá saudade, mas essa saudade será mobilizadora da própria votação."
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), disse que o debate em torno da votação do Código Florestal ficará menor com a ausência de Micheletto, e lembrou que o deputado foi um dos últimos políticos a procurá-lo no ano passado, antes do recesso parlamentar. "Ele foi lá tratar sobre temas da agricultura, do agronegócio brasileiro, foi me pedir a indicação do relator para a votação do Código Florestal", contou, durante o enterro.
Temer, presidente em exercício, esteve no velório acompanhado por um grupo de representantes do governo federal, como a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR); o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PC do B); e o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro. "Com certeza perdeu muito o Paraná. Micheletto, além de ser um excelente deputado que defendia o nosso Estado, a região, a agricultura, era um amigo", afirmou Gleisi.
A pedido da presidente Dilma Rousseff (PT), que está em viagem oficial a Cuba, a ministra transmitiu uma mensagem de solidariedade à família. "Hoje eu falei com ela, que chegou em Cuba e pediu para transmitir os sentimentos para a família, para o povo do Paraná, que ela sempre teve um deputado, um aliado de primeira hora, uma pessoa que contribuiu e ajudou muito o Brasil. Então venho aqui trazer meus sentimentos à família, ao povo de Assis, da região, pois vai fazer muita falta o Micheletto para nós, com certeza."
O governador Beto Richa (PSDB) decretou luto oficial de três dias no estado e também compareceu ao velório e destacou o trabalho de Micheletto em Brasília. "Ele participava ativamente de todas as reivindicações do Paraná em Brasília, principalmente no que se refere ao meio rural", destacou.
Richa esteve na cerimônia acompanhado de vários deputados estaduais e secretários. Na opinião do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, Micheletto demonstrava espírito público. "Ele era um homem do diálogo, extremamente articulado, ele era incapaz de pensar em si, tinha um espírito público maravilhoso, era para somar, caso contrário não contassem com ele, que nasceu para somar. Ele sempre pensava isso, 'tu faz pela agricultura', e acho eu esse era o pedido para todos nós", resumiu.
O diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, passou pelo velório durante a manhã. Ele ressaltou o envolvimento do deputado com as questões da agroindústria do estado e afirmou que ele deixou uma marca indelével na política paranaense. "Ele tinha posições muito firmes, mas sempre mantinha sua postura de diálogo. Ele acreditava muito nas propostas que apresentava e tinha uma grande participação política, de forma suprapartidária", afirmou.
Velório e homenagens
Desde as primeiras horas da manhã desta terça, filas formaram-se em frente à Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Assis Chateaubriand, onde o corpo do deputado federal Moacir Micheletto foi velado. Moradores de várias cidades da região foram prestar homenagens ao parlamentar. "É muita tristeza. Quem vai perder é a cidade de Assis Chateaubriand e o Brasil", disse a dona de casa Maria Aparecida dos Santos, que mora na cidade há 25 anos.
O mecânico Jurandir Nunes de Carvalho também afirmou que a perda é dolorosa. "Ele trazia muitas coisas para a cidade." O empresário Jose Gutjahk, viajou de Marechal Cândido Rondon para acompanhar a solenidade fúnebre. "Ele era uma liderança importante, fez muita coisa por Marechal Rondon também."
No fim da tarde, por volta das 17h20, o corpo de Micheletto foi levado em cortejo para o Cemitério de Toledo, distante cerca de 40 quilômetros do local do velório. No caminho, populares jogaram ramos de flores pelas ruas de Assis Chateaubriand na passagem do corpo do parlamentar. Em Toledo, um caminhão do Corpo de Bombeiros acompanhou parte do cortejo carregado de cerca de 40 coroas de flores.
A prefeitura de Assis Chateaubriand decretou luto oficial de três dias pela morte do deputado. Na cidade, o policiamento havia sido reforçado durante o dia e a maioria das lojas estava de portas fechadas.
O acidente
Segundo informações da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), Micheleto morreu em um acidente de carro na PR-239, entre Toledo e Assis Chateaubriand. Ele estava em um Toyota Corolla e bateu de frente com uma caminhonete Toyota Hilux. O acidente ocorreu no quilômetro 588 da rodovia. Os dois ocupantes da caminhonete - Edward Victor Aleixo, 23 anos, e Andreisson Aneli, 21 anos - ficaram feridos. Aleixo foi encaminhado com ferimentos moderados ao Hospital de Toledo. Aneli seguiu a um hospital de Assis Chateaubriand, com ferimentos leves.
De acordo com a PRE, o carro do deputado seguia no sentido Assis Chateaubriand. A assessoria do deputado, porém, informou que o acidente ocorreu quando Micheletto seguia do município de Assis Chateaubriand para Tupãssi, onde tem um sítio.
Ainda segundo a assessoria, o deputado dirigia o veículo e estava sozinho no momento do acidente. Apesar de contar com um motorista particular, ele teria dispensado o serviço nesta segunda-feira e, por isso, conduzia o carro.
Nascido em Xanxerê, Santa Catarina, no ano de 1942, Micheletto morou em Toledo, mas foi estudar Agronomia na Universidade de Passo Fundo (RS), pela qual se formou em 1972. No ano seguinte, ele foi morar na cidade de Assis Chateaubriand, no Oeste do estado. No município ele passou a desempenhar atividades ligadas à agricultura e realizou diversos cursos e treinamentos na área.
Antes de ser deputado, Micheletto trabalhou por 18 anos na Emater e desempenhou funções de chefia em associações de agrônomos, cooperativas e companhias agrícolas. De 1993 a 1999, foi vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Em 1991, Micheletto assumiu o primeiro mandato como deputado federal. Reeleito, ele desempenhou funções como a de Presidente da Subcomissão Permanente para tratar da política Agropecuária da Câmara dos Deputados.
Micheletto era filiado ao PMDB desde 1982 e exercia o sexto mandato como deputado federal. Reeleito em 2010, o mandato iniciado no ano passado terminaria em 2015.
Micheletto era casado com Diolinda Salete, com quem teve três filhos: Marcel Henrique, 32 anos; Leonardo Augusto, 27; e Ana Letícia, 25.
Veja o mapa com a localização aproximada do ponto do acidente



