O Ministério Público ofereceu denúncia nesta segunda-feira (18) contra o casal acusado de participar do crime no Cinemark do Shopping Market Place, na Zona Sul de São Paulo. Na madrugada do dia 3 de junho, a bilheteria do cinema foi roubada e um vigia do shopping, Wellington Policarpo Zacarias, de 24 anos, assassinado.
Na ocasião, acusado Marcelo Franco da Silva foi preso em flagrante, com o dinheiro que seria fruto do assalto e duas armas - um dos revólveres era do vigia. Rita de Cássia Franco, que o acompanhava, também foi denunciada pelo MP.
O promotor que subscreve a denúncia, Ricardo Antonio Andreutti, explica que a denúncia inicia a ação penal contra os acusados. "A partir de agora, o casal vai ser interrogado, serão ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa, as alegações finais, e vão a julgamento".
Marcelo e Rita de Cássia estão detidos e devem, segundo o Ministério Público, aguardar o julgamento na prisão. "Em cerca de 50 dias a dois meses, no máximo, esperamos ter uma sentença", afirma Andreutti.
De acordo com a denúncia, Rita de Cássia está sujeita à mesma pena que Marcelo, mesmo que sua participação tenha sido secundária. "Ela foi também processada. Também participou do crime como uma cúmplice", diz Andreutti.
A rede de cinemas confirmou que o acusado é ex-funcionário. Ele foi desligado da empresa em 2002.
No veiculo do acusado, a polícia encontrou duas agendas eletrônicas, dois aparelhos celulares, R$ 15.409 em um saco plástico e dois revólveres calibre 38 - um do vigilante que foi assassinado e o outro do criminoso. A arma usada no crime havia sido roubado em 1996, na cidade de Indaiatuba, segundo informa a Secretaria. Crime planejado
Em nota oficial, divulgada no último dia 3, a SSP informa que o gerente do cinema relatou que "um 'funcionário' chamou-o insistentemente pelo rádio informando que uma colega estava passando mal. Quando abriu a porta de sua sala, foi dominado pelo assaltante, que pegou seus objetos pessoais e, sob ameaça, questionou onde estava o dinheiro. Nesse momento, um segurança chegou para verificar o que estava ocorrendo e houve troca de tiros".
O segurança Wellington Policarpo Zacarias, de 24 anos, foi baleado e morreu. Ele chegou a ser socorrido ao Pronto Socorro da Santa Casa de Santo Amaro, mas não resistiu. A SSP informa que um outro funcionário do shopping também foi atingido, socorrido e liberado.
Ainda segundo a nota da Secretaria, "três funcionários foram trancados em uma sala, mas conseguiram informar a Polícia que o ladrão tinha seguido para o subsolo. Os PMs encontraram Marcelo tentando fugir com sua comparsa em um Corsa Wind azul. Ele saiu do veículo com a mão suja de sangue e não reagiu a ordem policial".
Matou e voltou para o cinema
Na madrugada do dia 3, o acusado assistia ao filme "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo", com a namorada, Rita de Cássia. No meio da sessão, que começou por volta da meia-noite e meia, ele se levantou, saiu da sala e foi cometer o assalto.
"Ele falou que conhecia bem o cinema porque trabalhou lá. Disse que estava no sufuco, precisando de dinheiro", relata o sargento Claudinei de Oliveira Vaz, de 35 anos, que esteve à frente do grupo de policiais chamados para prender o criminoso nesta madrugada.
De acordo com o sargento, um funcionário mais antigo teria reconhecido o suspeito, quando ele era levado pela polícia. "Ele (o funcionário) viu o criminoso e ficou dizendo: 'eu te conheço'. E se lembrou que o suspeito havia trabalhado lá".
O sargento conta que se encarregou de dar ao suspeito a notícia da morte do segurança. "Quando fiquei sabendo que o vigia morreu, falei para ele. Ele só abaixou a cabeça e balançou", relata.
Foi também o sargento Vaz que socorreu o segurança, encontrado ainda com vida pelos policiais que chegaram ao shopping. "Colocamos (o segurança) em uma maca e atravessamos todo shopping para levá-lo até a ambulância", conta o sargento, que ouviu o que provavelmente foram as últimas palavras do vigia.
"Ele disse: eu trabalho aqui, sou segurança. Me socorre...A minha filha, minha filha". Wellington Policarpo Zacarias foi levado à Santa Casa de Santo Amaro, na Zona Sul, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Ele deixou uma filha de quatro anos.
Mãos sujas de sangue
Após socorrer o vigia, os policiais tiveram que decidir que estratégia usariam para prender o criminoso. Sem pistas, os policiais não tinham como identificá-lo, mas acreditavam que ele continuava dentro do shopping. Decidiram cercar todas as saídas.
Quando viu Franco da Silva no estacionamento, o sargento Vaz desconfiou. "Ele estava nervoso, suando, dentro do carro. Fui até lá e o mandei descer. Quando ele pôs a mão na nuca, vi que estava suja de sangue. Falei: pode me confessar, que agora não tem mais como negar".
No carro, ao lado do suspeito, estava Rita. Ela disse à polícia que não sabia de nada e nem desconfiou da mão suja do companheiro. Segundo contou à polícia, ela pediu a Franco da Silva, que insistia em ir embora, para terminar de assistir o filme.
Após a confissão, o suspeito ainda teria aceitado voltar com os policiais até o local do crime, onde explicou como tudo havia acontecido.
Tiros no cinema
O sargento Vaz classificou o episódio de fato isolado. "Ele tentou a sorte pelo fato de conhecer o funcionamento do local. Foi um fato isolado. As pessoas podem ir ao cinema tranqüilas", afirma.
Coincidentemente, o sargento também trabalhou no caso do "atirador do shopping". Em 1999, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, armado com uma submetralhadora, abriu fogo contra a platéia de uma sala do cinema de um shopping, também na Zona Sul de São Paulo, matando três pessoas e deixando quatro feridas.
"Trabalhava no dia e tive que ficar dando apoio à ocorrência. Fazer coisas como verificar dados da ocorrência, ajudar a preservar o local para a perícia, fazer relatórios", lembra.
Para ele, a diferença principal dos dois casos é o perfil do assassino. "No caso atirador do shopping, foi tudo psicológico. Esse rapaz de hoje quis tentar a sorte. Naquele caso foi loucura, nesse, aventura", diz.
Há 16 anos na polícia, o sargento lamenta o episódio. "Não é fácil. Venho trabalhar motivado. Mas quando acontece isso, a gente se sente frágil porque não podemos proteger a todos. O que mais lamento é a perda de uma vida, de um trabalhador, de um pai de família, de uma maneira banal".



