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Documento do Ministério Público Federal aponta "diversas provas já colhidas" contra o empresário Marcos Valério, caixa 2 do mensalão preso há uma semana pela Operação Avalanche. Ele é suspeito de ter articulado suborno de dois delegados da Polícia Federal para abertura de inquérito criminal contra fiscais da Fazenda estadual que autuaram em R$ 104 milhões a Cervejaria Petrópolis - da qual Valério é consultor e amigo do presidente, Walter Faria. Segundo o Ministério Público, o advogado Ildeu Pereira, também preso pela Avalanche, "atuava a mando" de Valério. Pereira é apontado como emissário de Valério na missão de abordagem dos delegados federais Silvio Salazar e Antonio Vieira Hadano - os dois foram capturados por acusação de corrupção passiva.

A manifestação do Ministério Público pelo decreto de prisão de Valério narra, passo a passo, o que a instituição considera ligações dele com o "núcleo de espionagem" da organização desmantelada pela Avalanche - o grupo, segundo a PF, agia em outras duas frentes, para extorsão e fraudes fiscais.

Um episódio que envolve Valério são os contatos dele com Pereira em 13 de agosto, quando o advogado foi interceptado pela PF no Aeroporto de Sorocaba com R$ 1 milhão. O dinheiro, afirma o Setor de Inteligência da PF, seria usado para pagar propina. Há diálogos de Valério, grampeados com ordem judicial, que revelariam seu empenho no ajuste com os delegados, usando Pereira como elo.

O Ministério Público afirma que o esquema de propina "era mais que de conhecimento, submetido ao controle de Valério" Segundo a Procuradoria da República, "os valores de R$ 1 milhão foram entregues por Valério para Ildeu". A Inteligência da PF descobriu que uma outra parcela já havia sido entregue a um ex-agente federal, que se identifica como Ênio.

A operação teria sido fechada no início de julho no Campo de Marte, em São Paulo. O dinheiro foi transportado em um bimotor de Pereira, acompanhado de Valério. A cena foi registrada pela PF, que filmou e fotografou Valério - ele e Pereira foram identificados pela Polícia Militar a bordo do avião.

O Ministério Público está certo de que outros dois advogados - Rogério Tolentino, sócio de Valério e também réu no processo do mensalão, e Eloá Veloso, sócia de Ildeu Pereira -, têm ligação com o caso. "Toda a seqüência de fatos permitiu concluir que, sob mando de Valério e Rogério Tolentino, o advogado mineiro Ildeu Pereira, contando com o auxílio de Eloá Velloso, empreendeu todos os esforços, inclusive pagamento de propina, no sentido de levantar dados de cunho sigiloso e de campo em desfavor dos fiscais", assinala a procuradoria, referindo-se a Eduardo Fridman e Antônio Carlos Moura, fiscais que impuseram pesada multa à Cervejaria do amigo de Valério.

Defesa

"Nunca aconteceu isso", reagiu o criminalista Marcelo Leonardo, defensor de Marcos Valério. "Ildeu Pereira é um profissional conhecido e conceituado de Belo Horizonte. Valério não mandava nele, não orientava seu trabalho ou suas atividades, de maneira nenhuma", referindo-se à acusação da Inteligência da PF de que Valério e Pereira viajaram juntos para o Campo de Marte, em São Paulo, onde teria havido pagamento de parte da propina aos delegados da PF. "Um dia Valério pegou carona com Ildeu, que é dono de avião, só isso. No episódio da apreensão (R$ 1 milhão em Sorocaba), Valério não estava com Ildeu."

A Cervejaria Petrópolis, do empresário Walter Faria, informou que "nunca solicitou de quem quer que seja qualquer tipo de serviço e, principalmente, não participou, por ação ou omissão, de qualquer ingerência de pessoas na administração pública, na Polícia Judiciária e/ou no Poder Judiciário, Estadual ou Federal, para obter vantagem indevida".

Segundo a cervejaria, seus problemas com a Receita Federal estão "devidamente impugnados".

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