
O presidente norte-americano Barack Obama inicia amanhã uma visita de dois dias ao Brasil repleta de negociações comerciais e acenos simbólicos no campo diplomático. Obama deve destacar em seu discurso aos brasileiros, domingo, no Rio de Janeiro, que os dois países compartilham uma visão comum do mundo, com os mesmos valores de respeito à democracia. Do ponto da simbologia diplomática, será um "convite" ao governo brasileiro para se alinhar à política norte-americana de oposição a nações, como o Irã, que desrespeitam direitos humanos. Por outro lado, a visita terá ainda um forte componente comercial. Será o caso da tentativa de convencer o governo brasileiro a comprar caças norte-americanos para reequipar a Força Aérea.
"Temos muitos valores em comum com os brasileiros", diz o o assessor adjunto do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes. "Eles são uma democracia; um país diversificado; um país que busca a inclusão social. Muitos dos valores especialmente acolhidos pelos americanos são partilhados pelos brasileiros, e, por isso, acreditamos na possibilidade de ter uma parceria forte com o Brasil. O discurso do presidente [Obama] será focado nisso."
No campo político, Rhodes revela que também estará nas conversas de Obama com a presidente Dilma Rousseff, amanhã, em Brasília, a importância das transições "bem-sucedidas" de governos autoritários para regimes democráticos. "A presidente Rousseff representa, em muitos aspectos, o sucesso dessa transição [ela foi perseguida política da ditadura brasileira]. Penso que é algo sobre o que ele [Obama] vai falar", revela Rhodes. Esse assunto tem uma importância especial para os EUA neste momento, pois os EUA temem que países árabes que destituíram ditaduras recentemente, como Egito e Tunísia, caiam nas mãos de fundamentalistas islâmicos. Nesse sentido, o papel diplomático do Brasil poderia ajudar na transição democrática no mundo árabe.
Para o conselheiro sênior da Casa Branca para assuntos da América Latina, Dan Restrepo, a viagem servirá ainda para recuperar a influência dos EUA na região, e continuar com a redução do sentimento antiamericano. Nesse sentido, o discurso de Obama aberto à população do Rio será um importante gesto. Tentará conquistar a simpatia do brasileiro, reduzindo o sentimento antiamericano.
Restrepo salienta também que Obama pretende fortalecer com a presidente Dilma não apenas a relação bilateral, mas a possibilidade de estabelecer negociações trilaterais, na parceria de EUA-Brasil com outros países. Mas ainda não será desta vez que os americanos apoiarão o pleito brasileiro de conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, embora o assunto vá estar na mesa. "O presidente Obama e a presidente Rousseff vão, indubitavelmente, discutir sobre a reforma das Nações Unidas e o papel atual do Brasil no Conselho de Segurança. E eles vão, indubitavelmente, discutir isso num contexto mais amplo, de uma abrangência de arquitetura global que reflita as realidades mundiais", diz Restrepo.
O principal empecilho à entrada do Brasil no Conselho de Segurança é a postura do governo brasileiro em relação ao programa nuclear iraniano. O governo brasileiro vem dando sinais de que pode rever sua posição em relação ao Irã. Mas os EUA querem posturas mais incisivas.
O assunto, com certeza, será abordado por Obama durante o encontro de sábado no Palácio do Planalto, diz Restrepo. O secretário-assistente para assuntos do hemisfério ocidental dos EUA, Arturo Valenzuela, afirma que os dois países estão avançando em relação ao Irã. "Estamos de acordo que há temas no Irã que preocupam os dos países."
O ministro brasileiro das Relações Externas, Antonio Patriota, também afirma que o Irã seria certamente tema das conversas entre Obama e Dilma. Apesar de ter dito que as negociações sobre o país do Oriente Médio deverão prosseguir "em novas bases", Patriota criticou a reação dos Estados Unidos à tentativa de Brasil e Turquia, no ano passado, de fecharem um acordo com o Irã sobre o enriquecimento de urânio o que mostra que brasileitos e americanos ainda não apararam as arestas sobre o Irã e que isso continua a impedir o apoio dos EUA a um papel mais importante do Brasil na ONU.
Caças
Mas, a despeito da geopolítica mundial, a visita de Obama terá um forte caráter comercial. "A viagem é fundamentalmente sobre a recuperação dos EUA, exportações dos EUA e a relação crucial que a América Latina tem em nosso futuro econômico e nossos empregos", afirma Mike Froman, vice-conselheiro de segurança do governo dos EUA para temas de política econômica internacional. Os EUA pretendem melhorar seu desempenho econômico na América Latina e, com isso, sair da crise por que passam mais rapidamente.
Um dos principais temas comerciais a serem abordados, porém, também tem um caráter geopolítico: a compra de 36 caças para reequipar a Força Aérea Brasileira (FAB). Obama deverá fazer forte lobby pelos aviões de guerra F-18 Super-Hornet, produzidos pela norte-americana Boeing.
A questão mais delicada a ser tratada entre Obama e Dilma diz respeito à possível restrição da interferência do Senado americano na transferência de tecnologia de caças ao Brasil. A expectativa é de o lobby direto de Obama desequilibrar a concorrência, favorável à francesa Dassault (produtora do caça Rafalle) durante o governo Lula, e dar a vantagem à Boeing. A terceira concorrente é a sueca Saab, fabricante dos caças Grippen.
Anteontem, a jornalistas brasileiros e hispanoamericanos, Dan Restrepo, conselheiro-adjunto de Segurança Nacional da Casa Branca, insistiu na amplitude da oferta da Boeing em relação à questão-chave de transferência de tecnologia. "Essa é a oferta que se dá aos sócios mais próximos", salientou, ao confirmar a presença do tema na conversa entre os presidentes Obama e Dilma Rousseff.
Vistos
Outro tema que interessa diretamente aos brasileiros modificações na emissão de vistos de entrada nos EUA, não deve estar na pauta. Foi descartado da visita pelo secretário-assistente para assuntos do hemisfério ocidental dos EUA, Arturo Valenzuela. "Temos um debate constante sobre esse tema, mas até onde sei não é um dos assuntos a ser tratado", afirmou o secretário. Principal destino turístico internacional para os brasileiros, os Estados Unidos ampliaram recentemente a validade do visto para 10 anos. No entanto, a fila para conseguir uma entrevista e obter o documento pode ser de mais de três meses.



