
Quinze horários reservados para despachos internos, 29 reuniões com ministros, contra apenas duas entrevistas coletivas no Palácio do Planalto e três aparições em eventos públicos. As estatísticas da agenda de Gleisi Hoffmann durante o primeiro mês como ministra da Casa Civil, completado hoje, comprovam que ela levou a sério a tarefa de mudar o perfil da pasta, que voltou a se dedicar mais à gestão do que à articulação política. Nessa linha, o período serviu para a paranaense como um curso intensivo de como ser a "Dilma" da presidente Dilma Rousseff.
A opção pela discrição e pelo trabalho de gabinete, por enquanto, surtiu efeito até entre a oposição. "É cedo para fazer qualquer avaliação, mas só o fato de ela descontaminar o ambiente deixado pelo Palocci já pode ser considerado algo positivo", diz o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), ferrenho oposicionista no Congresso Nacional. Líder do PSDB na Câmara, o paulista Duarte Nogueira tem opinião parecida, mas dá o recado: "O destaque de uma pessoa pública não se dá no momento de águas tranquilas, mas na turbulência".
Gleisi assumiu o cargo após a pior tempestade do atual governo, o escândalo que levou à queda de Antonio Palocci. Coordenador da campanha de Dilma e interlocutor do PT com o empresariado, o ex-ministro acabou absorvendo a imagem de "estrela" dentro e fora do Planalto. Menos famosa, a paranaense acabou ganhando pontos justamente por ser considerada mais atenciosa.
"O Palocci era uma pessoa de difícil acesso, enquanto a Gleisi parece mais aberta. Agora, para ver se é isso mesmo, a gente ainda precisa esperar um pouco. O pessoal está apreensivo", diz deputado paranaense Nelson Meurer, líder do PP, terceiro maior partido da base governista na Câmara.
A imagem de política afável tem a ajudado a ministra a passar ao largo de novas confusões. Nas poucas falas à imprensa, houve apenas uma polêmica, quando ela disse que "não há recurso público" do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. A tese de Gleisi é que os recursos viriam da BNDESPar, um braço do órgão em empresas privadas realmente sem interferência do governo, mas cujos resultados têm impacto nas receitas do Tesouro Nacional.
Mudanças
Se os primeiros 30 dias da paranaense foram marcados pelas raras notícias externas, internamente uma série de mudanças já está em andamento. O primeiro passo foi estreitar a parceria com a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, presidida pelo empresário Jorge Gerdau. Na primeira reunião do órgão, dia 29 de junho, foram definidas, pela ordem, cinco áreas prioritárias do governo: Ministério da Saúde, Infraero, Ministério da Justiça, Previdência e Correios.
Com atenção às férias de julho, Gleisi também se preocupou com anúncio de medidas preventivas a uma nova crise nos aeroportos. Entre elas, está o compromisso das empresas de não operar com overbooking (venda de passagens em número superior ao de assentos). Além disso, comunicou a decisão do governo de que todos os aeroportos tenham internet gratuita.
Ainda na área de gestão interna, a ministra reativou na segunda-feira a Subchefia de Articulação e Monitoramento da Casa Civil. O órgão vai auxiliá-la no acompanhamento das ações consideradas prioritárias nos ministérios. Seis técnicos já foram nomeados e vão trabalhar em cooperação com a Câmara de Políticas de Gestão.
A recomposição da subchefia distancia o ministério da era Palocci e o deixa mais idêntico à era Dilma, que ficou no cargo de junho de 2005 a março de 2010. "Essa é a encomenda que ela [Dilma] me fez [mudar o perfil da Casa Civil]. Quando ela conversou comigo, me disse: 'Olha, não quero você nas articulações da política'", afirmou Gleisi, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo no dia 10 de junho.
Nada a declarar
Desta vez, no entanto, a ministra preferiu não falar sobre o balanço do seu primeiro mês no governo. Na estreia como ministra da Casa Civil, há seis anos, Dilma também evitou declarações à imprensa. Na época, ela também havia substituído a então "estrela" do governo, José Dirceu.
Na mesma entrevista, Gleisi disse que a ideia de que ela seria a "Dilma da Dilma" não era correta e que ela não tinha essa pretensão. "Eu tenho muito que aprender ainda", justificou. Entre tantas coincidências com a chefe nas últimas quatro semanas, parece que na prática a resposta foi outra.



