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50 anos do golpe

“Nova” Marcha da Família reúne menos de 1 mil pessoas pelo Brasil

Além da baixa adesão, em alguns estados houve uma série de incidentes durante o ato dos defensores da ditadura militar

Em Curitiba, cerca de 30 pessoas se reuniram em frente ao Quartel do Pinheirinho para protestar | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Em Curitiba, cerca de 30 pessoas se reuniram em frente ao Quartel do Pinheirinho para protestar (Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo)

Foi frustrada a tentativa de reeditar, 50 anos depois, a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade – que reuniu 500 mil pessoas nas ruas de São Paulo em 19 de março de 1964 para protestar contra o risco de o Brasil virar comunista. Na época, a marcha mostrou aos militares que eles contavam com o apoio de uma parcela expressiva da população para dar o golpe e instalar a ditadura. Neste sábado, a versão 2014 do movimento não conseguiu reunir nem mesmo

1 mil pessoas em algumas capitais. Eles defendem a ditadura, que no fim do mês completa 50 anos.

Em Curitiba, cerca de 30 manifestantes, entre civis e militares, participaram da marcha. O grupo combinou o encontro na Rua 31 de Março, dia do golpe militar, em frente ao quartel da 5.ª Região Militar de Curitiba, no Pinheirinho. A 11 quilômetros do Centro da capital, onde costumam acontecer protestos e levantes populares, o movimento teve pouca adesão e quase nenhuma ação. Dois cartazes, uma bandeira da Associação de Militares da Reserva, vários reservistas do Exército, poucas mulheres e jovens: esses eram os integrantes do protesto. Eles argumentavam que a luta que os movia era contra "tudo que está aí e que todo mundo sabe o que é": contra a corrupção, pelo descaso com as Forças Armadas e pelo fim do que chamam de comunismo no Brasil.

Para os manifestantes, os indícios de que o Brasil viveria uma "ditadura comunista" seriam o apoio aos governos de Cuba e Venezuela, a Comissão Nacional da Verdade, o Foro de São Paulo. Para eles, o ideal é que haja no Brasil democracia, respeito aos símbolos nacionais, mais segurança, saúde e educação.

Pancadaria

Em alguns estados, além da baixa adesão, houve uma série de incidentes. No Rio de Janeiro, a marcha terminou em pancadaria. O movimento, com cerca de 150 pessoas segundo a Polícia Militar, que apoia uma intervenção das Forças Armadas no país se encontrou com um grupo de, pelo menos, 50 manifestantes que é contra a ditadura militar.

A confusão ocorreu em frente do Palácio Duque de Caxias, no Centro, quando os dois grupos começaram a se hostilizar. Pelo menos 150 policiais do Batalhão de Grandes Eventos tiveram de intervir. Um dos presentes foi o deputado federal Jair Bolsonaro.

Em São Paulo, quatro pessoas foram detidas durante a marcha. Segundo a Polícia Militar, 700 manifestantes compareceram ao evento, que percorreu o centro da cidade. Os organizadores discursaram exaltando militares e criticando, sobretudo, governos do PT. Também havia cartazes contra o PSDB.

No trio elétrico do movimento, no qual uma estátua de Nossa Senhora de Fátima foi exibida, uma faixa dizia "FFAA [Forças Armadas] já". Houve pequenas confusões. Diferentemente do que ocorreu no Rio de Janeiro, os manifestantes não cruzaram com os de um segundo evento, a Marcha Antigolpista Ditadura Nunca Mais – convocada justamente em resposta à Marcha da Família. Segundo a PM, cerca de 800 pessoas estiveram nesse ato. Entre os manifestantes desse segundo movimento, em sua maioria ligados a partidos de esquerda e sindicatos, havia alguns mascarados. Do carro de som vinham discursos contra a ditadura e a PM. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) cantou "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", de Geraldo Vandré. As duas marchas foram seguidas por 900 policiais.

Também houve manifestações em Manaus e em Recife. Nas duas cidades, a adesão foi baixa, com 30 e 25 participantes respectivamente. Em Recife, a marcha se encontrou com ativistas de esquerda e houve xingamentos.

Forças Armadas negam informações à Comissão da Verdade

As Forças Armadas têm se recusado a responder ofícios da Comissão Nacional da Verdade e do Ministério Público Federal, o que trava a investigação de crimes cometidos durante a ditadura militar. Desde que foi criada, em maio de 2012, a comissão não recebeu nenhuma informação relevante do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica. Oficialmente, o discurso é outro: o Ministério da Defesa e as três Forças afirmam que estão colaborando.

A comissão requereu a relação de oficiais que serviram em órgãos da repressão, questionando quais foram as bases militares utilizadas. Não houve resposta. De um pedido de informação sobre 60 militares, somente a Marinha respondeu, apresentando o nome de dois. Nenhum dado foi obtido de um outro requerimento que cobrava dados sobre 309 casos de torturas, mortes e desaparecimentos.

Procuradores responsáveis pelas investigações dos crimes do período dizem o mesmo: a falta de colaboração atrapalha o andamento de inquéritos abertos com o objetivo de questionar a validade da Lei da Anistia em casos de desaparecimento forçado.

Embora sejam dos órgãos federais os que mais respondem aos pedidos da Lei de Acesso à Informação, de acordo com a Controladoria Geral da União, as três Forças adotam tática protocolar de apresentar informações superficiais ou incompletas.

A preocupação é de que a abertura dos arquivos possa incriminar militares pela tortura ou morte de opositores. "Essa prática demonstra um claro compromisso institucional com as graves violações da época", diz Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade.

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