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Comportamento

Nudge: cidadão precisa de um empurrãozinho para fazer a coisa certa?

 | Ilustração/Felipe  Lima
(Foto: Ilustração/Felipe Lima)

Cada um sabe de si, é o que dizem. Será mesmo?

O trabalho realizado por um departamento do governo britânico tem mostrado que muitas vezes o cidadão precisa de uma ajudinha para fazer as melhores escolhas para si mesmo e para a comunidade em que vive, a despeito de parecerem óbvias.

Trata-se da Nudge Unit, ou, oficialmente, The behavioural insights team (algo como “Time das ‘sacadas’ comportamentais”), que estuda como as pessoas se comportam diante de situações diversas e como o governo pode trabalhar para que as políticas públicas funcionem melhor e alcancem a maior adesão possível.

A equipe liderada pelo filósofo e cientista comportamental David Halpern existe há apenas seis anos, mas já mostrou a que veio: por meio de estratégias sutis, conseguiu aumentar o número de doadores de órgãos; ampliar a capacidade do Centro de Trabalho britânico de gerar vagas de emprego e reduzir em 15% o número de inadimplentes junto à Receita e Alfândegas da Coroa. O segredo de tamanho sucesso é o nudge.

Empurrãozinho

“Nudge” significa empurrar ou cutucar alguém, de leve, para chamar sua atenção. Em sentido figurado, significa persuadir ou encorajar sutilmente. O jurista Cass Sustein, professor de Harvard, define a expressão como uma intervenção cujo intuito é influenciar a tomada de decisão sem, no entanto, cercear a liberdade de escolha do indivíduo.

Em resumo, o princípio do nudge é utilizar conhecimentos da neurociência, da psicologia e do marketing para estimular e balizar decisões e conquistar a adesão espontânea dos indivíduos. Assim, o nudge excluí todas as medidas que ameaçam, punem ou proíbem alternativas.

Os empurrõezinhos pretendem estimular todo tipo de comportamento benéfico para o indivíduo, para a coletividade e, claro, para o governo – como pagar todos os impostos em dia; utilizar recursos naturais de forma inteligente ou dirigir de forma mais responsável. Entre os exemplos citados por Sustein estão advertências nos maços de cigarros; configurações padrão dos aplicativos; lembretes sobre contas e impostos em atraso e intervenções artísticas nas vias para reduzir a velocidade (como imagens de crianças atravessando a rua pintadas em faixas de segurança).

Críticas

A aplicação da teoria do empurrãozinho não é imune às críticas. Muitos teóricos acusam-na de manipuladora e paternalista. A cientista política Suzanne Mettler, da Universidade de Cornell, argumenta que as políticas governamentais que recorrem ao nudge tratam os cidadãos como consumidores que precisam de ajuda para tomar decisões, o que avançaria sobre princípios básicos da democracia e liberdade individual.

Na avaliação de Fernando Nogueira da Costa, pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp, as cutucadas não são ordens impostas de maneira totalitária, embora rompam com o pressuposto racionalista de que “cada qual sabe o que é melhor para si”. O principal argumento em defesa da teoria é de que a intervenção orientadora deve ser fácil de evitar – e sem custo.

“É um caso de ‘servidão voluntária’, mas isso porque as pessoas, em geral, abominam a complexidade e adotam a inércia, inclusive, por exemplo, a configuração de fábrica de aparelhos eletrônicos. A teoria nudge trata de tomar a priori as decisões mais racionais para o cidadão. A posteriori, as pessoas têm a opção de alterá-las e escolher o que acha melhor para seu perfil.”

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