Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Transportando multidões

O encantado projeto do metrô

A primeira vez que a prefeitura pensou na instalação do novo modal foi na década de 70. De lá para cá, diversos projetos foram encomendados, mas não saíram do papel

Croqui do novo projeto do metrô para Curitiba: mais de três décadas depois, finalmente o trem subterrâneo pode sair do papel e passar funcionar | Reprodução: Ippuc
Croqui do novo projeto do metrô para Curitiba: mais de três décadas depois, finalmente o trem subterrâneo pode sair do papel e passar funcionar (Foto: Reprodução: Ippuc)

No dia 3 de setembro de 2000, a Gazeta do Povo publicou uma reportagem noticiando que a prefeitura de Curitiba estudava substituir a implantação do metrô por uma nova linha de ônibus. Existia dúvida se o novo modal seria a melhor solução. A primeira vez que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) estudou a implantação do metrô foi em 1975. De lá para cá, diversos projetos foram estudados como solução para a demanda do transporte coletivo, mas nenhum saiu do papel.

Apesar de considerar o metrô como solução inevitável para a atual situação, o urbanista Luiz Henrique Fragomeni diz que, por um lado, Curitiba teve sorte de não ter optado pelo metrô na década de 70, pois teria investido muito. E a solução encontrada, com corredores estruturais, deu conta da demanda. Tanto que acabou sendo uma ideia copiada. "Curitiba ficou conhecida no mundo inteiro pela solução encontrada e, então, tomou-se uma posição política de não se discutir mais o metrô, pois seria negar o sucesso do sistema", comenta Fragomeni, que foi presidente do Ippuc entre 2006 e 2007.

Em 1990, durante a terceira gestão de Jaime Lerner na prefeitura, a ideia foi retomada. A intenção era construir uma linha Norte-Sul, no mesmo itinerário da linha Santa Cândida-Capão Raso, sob a canaleta exclusiva de ônibus. O projeto foi abandonado por decisão do prefeito seguinte.

Em 2000 a dúvida era se valia a pena construir uma linha de metrô no trecho urbano da BR-116, hoje Linha Verde, entre o Pinheirinho e Atuba, ou criar um novo eixo de ônibus biarticulado. Por ser ano de eleição, a prefeitura decidiu, na época, que não tomaria uma atitude naquele ano já que o próximo prefeito poderia escolher outra solução para o transporte coletivo da cidade. Em 2001, após a reeleição de Cassio Taniguchi, o então prefeito anunciou a construção de um metrô elevado, com inauguração prevista para 2006. Mas houve dificuldade de conseguir financiamento. Em 2007, o projeto foi retomado, inclusive com a publicação de um edital. Porém, não chegou à fase de propostas, pois uma liminar concedida em 2008 interrompeu o processo. Em 2009 a liminar foi revogada e o processo, retomado.

PAC da Copa

A Copa do Mundo de 2014, que terá como uma das cidades-sede Curitiba, deve tirar a construção do novo modal do papel. A decisão do governo federal de liberar R$ 1 bilhão a fundo perdido tornou a construção viável. Outros R$ 300 milhões serão financiados pelo governo estadual e R$ 450 milhões, pelo município. Uma parceria público-privada (PPP) irá completar os R$ 500 milhões restantes. Na opinião do professor de Engenharia de Tráfego Pedro Akishino, da UFPR, somente esse eixo não vai resolver o problema do transporte público da cidade. Será preciso estudar eixos de transporte a serem priorizados e criar a integração entre metrô e ônibus para que o sistema atinja toda a cidade. "O metrô, uma vez iniciado, nunca termina de ser feito. Mesmo em cidades como Paris continuam construindo uma linha após a outra." Em Curitiba, a maior complicação para o metrô é que o terreno é um brejo e construir de forma subterrânea encarece o projeto, explica Akishino.

Fragomeni defende que o projeto do metrô seja de vanguarda, da mesma forma que foi o sistema de transporte coletivo na década de 70. A solução atual, segundo o urbanista, é muito convencional. Ele diz que deveriam ser priorizadas a construção de linhas para a região metropolitana, pois a população ao redor de Curitiba cresce mais do que a capital e demandará, cada vez mais, o transporte coletivo da sede. "É fato que temos de melhorar o sistema. O ônibus gera desconforto e, se existe uma evolução do transporte coletivo, ela precisa ser usada. Mas creio que os órgãos financiadores esperam mais de Curitiba; esperam projetos mais inteligentes, propostas mais criativas", diz.

Rio tem avaliação melhor no setor

O estudo "Estado das cidades da América Latina e do Caribe 2012 – Rumo a uma nova transição urbana", divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em agosto, apontou Curitiba como uma cidade referência no transporte. Porém, o Rio de Janeiro teve a melhor avaliação em mobilidade urbana. Curitiba foi elogiada como a criadora dos BRTs (corredores exclusivos para o transporte coletivo), modelo copiado por outros países.

O relatório se baseou em uma pesquisa da Corporação Andina de Fomento (CAF), em 15 cidades de nove países da América Latina de 2007. A avaliação positiva do Rio de Janeiro ocorreu porque o estudo mostrou que 82% do deslocamento naquela cidade era feito por transporte coletivo, bicicleta e a pé. O dado é relativo a 2007, quando, segundo o estudo, em Curitiba 28% dos deslocamentos eram feitos por transporte coletivo pela população. Em compensação, cerca de 40% era feito a pé ou por bicicleta.

Exportação

Entre as cidades que adotaram o modelo de corredores exclusivos de transporte coletivo estão Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Montevidéu, Quito e Santiago do Chile.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.