
As atividades de apoio dos candidatos a vereador do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) à campanha do prefeito Beto Richa na última eleição aparentemente não saiu de graça: custou, ao que tudo indica, dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral e cargos na prefeitura.
Durante a campanha, em julho passado, 28 candidatos a vereador do partido, que se coligou com o PTB do então candidato a prefeito Fabio Camargo, abriram mão de suas candidaturas. A maioria deles se uniu para fundar um comitê de apoio ao então candidato à reeleição pelo PSDB o "Comitê Lealdade" .
Uma gravação obtida pela reportagem da Gazeta do Povo mostra que, no entanto, a fidelidade não se deu apenas por convicção política: pelo menos 23 dos dissidentes do PRTB aparecem no vídeo recebendo dinheiro em espécie das mãos de Alexandre Gardolinski, indicado por Richa como coordenador do comitê. Além disso, outras 5 pessoas são citadas na gravação como beneficiárias dos recursos distribuídos.
O vazamento da gravação resultou na demissão de três funcionários da prefeitura na última quinta-feira, incluindo o secretário de Assuntos Metropolitanos, Manassés Oliveira, que aparece na gravação recebendo dinheiro, e o próprio Gardolinski, que ocupava até a última quinta-feira cargo em comissão na Secretaria do Emprego e Trabalho.
Ouvidos pela reportagem, alguns dos envolvidos negaram o recebimento de dinheiro, enquanto outros justificaram que a soma se destinava a custear despesas de campanha do PSDB, já que trabalharam na campanha de Beto.
Além disso, pelo menos oito ex-candidatos dissidentes do PRTB foram nomeados após a eleição para cargos na prefeitura de Curitiba, nas secretarias de Governo, Assuntos Metropolitanos, Trabalho e Emprego, Esporte e Lazer e até no gabinete do prefeito.
Outro integrante do PRTB que aparece no vídeo mas que não foi candidato, Raul DAraújo Santos, ocupava cargo na Secretaria de Assuntos Metropolitanos e também acabou exonerado por Richa na quinta-feira.
Origem desconhecida
No comitê, que funcionava em uma casa no bairro do Ahú, em Curitiba, também eram realizados churrascos, festas e outros eventos eleitorais.
A origem do dinheiro, que pode caracterizar a prática de caixa 2 na campanha, ainda não é conhecida. Mas a reportagem apurou que o Comitê Lealdade não prestou contas ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Na prestação de contas geral do comitê financeiro da coligação que elegeu o candidato tucano também não constam os nomes, nem os CPFs, das pessoas que aparecem no vídeo recebendo dinheiro ou que são citadas.
O próprio Gardolinski confirma que não houve qualquer prestação de contas. "Era um comitê independente", justifica. Segundo ele, o dinheiro usado para pagar os ex-candidatos veio de "contribuições de amigos". Ele não quis, porém, dizer os nomes dos doadores.
O pagamento a quase todos que abriram mão de concorrer pelo PRTB corresponderia a duas parcelas de R$ 800,00 para cada um, repassados, conforme o vídeo mostra, por Gardolinski mediante assinatura de um recibo.
A gravação mostra os ex-candidatos, um a um, recebendo o dinheiro das mãos de Gardolinski e assinando um recibo referente ao valor pago pelo comitê, além de outras quantias para pagamento de combustível.
Investigação
A Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná informou no fim da tarde de sexta-feira, por meio de sua assessoria, que está acompanhando e investigando supostas irregularidades durante a campanha do prefeito Beto Richa na eleição de 2008. A procuradoria não informou, porém, se tem ou não o vídeo.
Demissões
As demissões de Gardolinski, Manassés e Raul Santos ocorreram, coincidentemente, no mesmo dia em que a Gazeta do Povo começou a fazer as entrevistas sobre o caso.
As exonerações foram anuncia-das pela prefeitura no final da tarde. No exato momento em que a assessoria do prefeito fazia o anúncio, às 19 horas, Manassés concedia entrevista à reportagem, na redação da Gazeta. Durante a entrevista, ele foi avisado sobre a exoneração. "Estou desempregado", limitou-se a comentar, nitidamente constrangido (leia mais na página 18).
Manassés ocupava desde o início do ano o cargo de secretário municipal de Assuntos Metropolitanos. Na primeira gestão de Beto, foi o titular da Secretaria do Emprego e Trabalho, onde ficou até a campanha eleitoral do ano passado.
Gardolinski, o autor das gravações, estava lotado na Secretaria Municipal do Trabalho. E Raul DAraújo Santos era o superintendente da Secretaria de Assuntos Metropolitanos. Na época da gravação, ele respondia interinamente pela secretaria de Emprego e Trabalho, no lugar de Manassés.




