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Processo de impeachment de Dilma foi aprovado pela Câmara e agora será avaliado pelo Senado | EVARISTO SA/AFP
Processo de impeachment de Dilma foi aprovado pela Câmara e agora será avaliado pelo Senado| Foto: EVARISTO SA/AFP

A crise política brasileira atravessou fronteiras e encontrou repercussão nos principais jornais de todo o mundo. Afinal, as consequências de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) podem implicar em outros desdobramentos no cenário internacional. Diante deste impasse, alguns dos principais periódicos dos Estados Unidos e da Europa tomaram posição sobre o assunto e, em comum, nenhum compra a ideia de que o impeachment é um “golpe”, defendida pelo governo, tampouco que o impedimento de Dilma será a solução política e econômica do Brasil.

Vale destacar que há uma diferença entre editorial e artigos de opinião. Editoriais expressam a opinião do veículo de comunicação, enquanto artigos são assinados por pessoas que manifestam suas opiniões individuais. Confira o posicionamento de alguns desses veículos em editorial:

Washington Post

Washington Post/Reprodução

O editorial do norte-americano Washington Post, que leva o título “O Brasil precisa de novas eleições, e não intermináveis guerras de impeachment”, ressalta explicitamente que o processo não é um golpe. O texto já começa negando a tese: “A presidente brasileira Dilma Rousseff insiste que o impeachment levantado contra ela é um ‘golpe contra a democracia’. Certamente não o é”. Em seguida, o editorial tece críticas tanto ao governo quanto ao Congresso Nacional.

“A maioria dos deputados que votaram para acusar a presidente enfrenta alegações de má conduta, enquanto o vice-presidente Michel Temer, que assumiria a presidência, tem sido acusado do mesmo crime como o presidente. O líder da campanha contra Dilma, presidente da Câmara Eduardo Cunha, que é o segundo na linha de sucessão presidencial, é acusado de receber milhões de dólares em subornos”, diz o editorial. Para o veículo, a acusação contra Dilma “oferece poucas perspectivas para acabar com a crise política do Brasil”.

Segundo o Washington Post, “o melhor recurso do Brasil seria novas eleições”. “Se isso falhar, a maior potência da América Latina pode ser condenada a passar o próximo par de anos em recessão e de conflito interno”, prevê o meio de comunicação.

The Guardian

O britânico The Guardian classificou o processo de impeachment como “uma tragédia e um escândalo”. O jornal não cita que o processo é um golpe. O editorial ainda questiona como as coisas vão tão errado no Brasil. A resposta, segundo o jornal, passa pelas “transformações da economia global, a personalidade da presidente, o PT ter abraçado um sistema de financiamento partidário baseado em corrupção, o escândalo que estourou após as revelações e uma relação disfuncional entre Executivo e Legislativo”.

O periódico ressalta ainda que “quase todos os envolvidos no impeachment de Dilma são suspeitos de corrupção, incluindo Eduardo Cunha”.

The Economist

A revista The Economist também se manifestou a respeito do impeachment e adota um tom mais crítico ao governo federal. “Em manifestações diárias, a presidente brasileira Dilma Rousseff e seus aliados chamam a tentativa de impeachment de Golpe de Estado. É uma afirmação emotiva que move pessoas além de seu Partido dos Trabalhadores e mesmo além do Brasil”, inicia o texto.

Para a publicação, o problema é que Dilma perdeu a capacidade de governar e, em regimes presidencialistas esses traumas são de difícil solução: “O drama do país deve lidar com o que fazer quando um governo deixa de funcionar. Dilma começou seu segundo mandato em janeiro de 2015 com a economia em colapso, juntamente com o seu apoio popular e político. Cada semana traz reivindicações frescas de corrupção. O presidente não governa em qualquer sentido do termo. O país não pode suportar quase mais três anos deste governo”.

El País

A edição brasileira do principal jornal espanhol, o El País, publicou sua posição sobre o assunto. O título do editorial dá o tom do que o meio pensa: “Brasil diante do abismo”. O jornal destaca que o afastamento de Dilma não irá ser a solução para os problemas políticos e econômicos enfrentados pelo Brasil.

“Dois fatos são inquestionáveis: o caso Petrobras expôs uma corrupção gigantesca na classe política brasileira que afeta todos os partidos, esquerda e direita, sem distinção; e, até agora, a única não acusada de enriquecimento pessoal foi a própria presidenta. Ao fim e ao cabo, o impeachment se baseia em um tecnicismo fiscal: a prática ilegal de recorrer a empréstimos de bancos públicos para equilibrar o orçamento”, opina o jornal.

Para o El País, o Brasil fica em um “limbo político” e o afastamento de Dilma não vai propiciar que a “democracia brasileira saia desse transe debilitada”.

New York Times

O New York Times, em nota dos editorialistas publicada na última segunda-feira (18), informa que Dilma considera seu impeachment um “golpe”. Mas o jornal não defende e nem critica explicitamente esta consideração da presidente.

“O presidente enfrenta duas escolhas principais. Ela pode chamar para eleições antecipadas, apaziguar aqueles que acreditam que a crise política do país é improvável de ser resolvida até que um novo líder seja eleito. Ou ela pode lutar contra o impeachment e a esperança de recuperar de alguma forma a confiança do público”, considera o editorial.

Le Monde

Em editorial, o jornal francês Le Monde diz que a decisão da Câmara contra a presidente é uma má notícia para o país: “O Brasil entrou em uma fase de incerteza de alto risco. É preciso torcer para que seus políticos eleitos se controlem e compreendam a urgência de ultrapassar seus interesses pessoais para se dedicar aos de uma população que havia colocado sua confiança neles.”

O jornal lembra ainda que há poucas décadas o Brasil passava pelo processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor do Mello. “Para uma jovem democracia de trinta e um anos, é muito”, opina o veículo. “Se a corrupção está no coração das revoltas políticas, Dilma Rousseff, à diferença de Collor de Mello, não é suspeita de enriquecimento pessoal. Ela é acusada de ter usado de artifícios administrativos para maquiar o déficit orçamentário, um procedimento do qual ela não foi a primeira a recorrer”, pondera o jornal.

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