
Sem poder e sem rumo. É assim que os especialistas veem hoje a situação dos partidos de oposição no Brasil. Há mais de oito anos fora do Palácio do Planalto, o PSDB ainda não encontrou o discurso a adotar e vê José Serra e Aécio Neves numa queda de braço pela liderança da legenda. O DEM, que sempre viveu à sombra dos tucanos, perdeu há alguns dias o seu maior expoente, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que ainda levou consigo vários companheiros de partido para o recém-fundado PSD. Tido como uma terceira via, o PV corre o risco de perder Marina Silva, segundo ela, por não democratizar o poder dentro do partido. Diante desse cenário (veja quadro ao lado), especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo defendem que a oposição se realinhe e defina sua estratégia programática. Dessa forma, deixará claro ao eleitorado quais são suas bandeiras e vai impedir que o poder interno permaneça nas mãos de alguns poucos filiados.
A crise pela qual passa a oposição, em especial o PSDB, é tão evidente que o tema foi abordado na edição desta semana da revista norte-americana The Economist. "O PT, partido de Lula, construiu uma organização poderosa quando estava na oposição. O PSDB, ao contrário, está cada vez mais fraco. Também ao contrário do PT, o PSDB sempre foi mais um clube de tecnocratas brilhantes do que uma organização de massas", diz a publicação. A revista trata ainda da disputa por poder entre Serra e Aécio e afirma que "tão prejudicial quanto a profusão de pretensos líderes no PSDB é a falta de um programa distinto". Por fim, a The Economist alerta para o fato de os tucanos terem perdido votos entre os jovens e a classe média para Marina Silva na eleição do ano passado.
À deriva
Para o cientista político Mário Sérgio Lepre, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), como não tiveram origem em posicionamentos ideológicos concretos e não se enraizaram na sociedade como deveriam, os partidos políticos têm sofrido o reflexo dessa fragilidade histórica.
Outro aspecto, segundo ele, é que os partidos no Brasil, com exceção do PT, sempre tiveram a luta política vinculada ao governo. Agora, na oposição, não sabem como agir. "O PT sempre bateu firme na tecla de ser contra e cresceu com isso, se distanciou da geleia geral de todos os partidos, que sempre foram governo e viveram do governismo", afirma. "O papel que deveria ser de oposição não existe mais, porque todos os partidos só sabiam viver vinculados à máquina pública. Agora, eles entendem que a vida de oposição é muito difícil quando o governo vai bem."
O resultado disso, para Lepre, é que a oposição de maneira geral não tem um discurso definido, apesar de haver espaços ideológicos a serem preenchidos. "Ainda não caiu a ficha na oposição de que é preciso deixar claro o que a diferencia do governo, que ela tem sim algo diferente a propor. Por exemplo, bater na tecla de que pagamos impostos em excesso, mas os serviços públicos são ruins", avalia.
Concentração de poder
A opinião é compartilhada pelo professor de Ciência Política do Grupo Uninter Luiz Domingos Costa. Para ele, isso é reflexo da estrutura personalista dos partidos, que, comandados com mão de ferro por poucas ou uma única liderança, têm enorme dificuldade de se realinhar quando se tornam oposição. "Após uma derrota de quem ficou a mercê deste ou daquele líder, o partido entra numa rota interna critica, não se organiza, fica sem estratégias definidas", defende. "É o caso do PSDB hoje, com a disputa entre Serra e Aécio. Ambos estão pisando em ovos, não assumem uma postura crítica ao governo Dilma, nem uma plataforma clara de atuação aos eleitores. O PSDB não sabe o que falar hoje."
"Essa personalização marca também o PMDB local. O [senador Roberto] Requião e o [ex-governador Orlando] Pessuti são pessoas acima do partido, enquanto os demais vivem em um limbo", lembra Lepre. "Esse é um problema na política brasileira: as coisas correm em torno de nomes e não de forças partidárias."
Desorientados
Para Costa, o DEM também precisa assumir um projeto político definido para voltar a se fortalecer. "Abandonar o nome PFL teve um efeito devastador. Perdeu-se uma sigla consolidada, que já vinha no imaginário há 20 anos", afirma. "Enquanto foi fiador do PSDB, o DEM esteve razoavelmente bem, mas nunca teve cara própria. O partido precisa se diferenciar."
Em relação ao PV, o professor destaca a fraqueza organizacional do partido em comparação com a força política de Marina Silva, que recebeu quase 20 milhões de votos na disputa presidencial de 2010. "O PV é um partido dúbio no que diz respeito à sua agenda e está pouco distribuído pelo país. É uma legenda que nunca foi relevante no Brasil e não era nada antes da Marina", analisa.
De forma geral, defende Costa, os partidos de oposição precisam encontrar uma agenda de assuntos que os unifique e estabelecer um discurso definido contra o governo, se quiserem crescer.
"O caminho é a vivência democrática e mais republicana. Os partidos precisam colocar o republicanismo acima dos conchavos. Mas isso ainda vai levar tempo", completa Lepre.
Interatividade
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