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Dois dias depois do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) terem se queixado, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos vazamentos parciais da Operação Navalha, que acabaram derrubando Silas Rondeau do Ministério das Minas e Energia, líderes da oposição no Senado abriram nesta quinta-feira sua artilharia contra o que classificam de ação política da Polícia Federal.

Da tribuna, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), exibiu uma cópia do inquérito da Operação Navalha, que tramitaria em segredo de justiça, com vários trechos com uma tarja preta. Sua suspeita imediata foi de que as tarjas esconderiam informações comprometedoras de aliados do governo Lula. O documento foi deixado em sua casa e seu filho, de 15 anos, não identificou a pessoa que o entregou.

- Eu quero saber se eu estou diante de uma polícia republicana, que está disposta a cumprir a lei e a Constituição e a prender corruptos, ou se estou diante de uma Polícia parecida com a Pide de Salazar, visando a perseguir desafetos e protegendo corruptos de dentro do governo! É bom termos um governo que não separe ladrão amigo de ladrão inimigo. Ladrão é ladrão. Eu não aceito uma polícia política, que separa ladrões amigos de ladrões inimigos, e cobre, com as tarjas pretas, o nome dos ladrões amigos e procura expor o nome dos ladrões inimigos - disparou Virgílio.

O líder tucano solicitou ao presidente do Senado, que o ouvia atentamente, que solicitasse formalmente uma cópia do inquérito da Operação Navalha para o Congresso Nacional sem as tarjas pretas:

- Vossa excelência peça a remessa para o Senado da República e para o Congresso Nacional de todos os três tomos, um deles está misteriosamente sumido, segundo me informam, e sem tarja nenhuma. Nós teremos muito mais responsabilidade ao manusear esses documentos do que os irresponsáveis que têm feito esse vazamento a conta gotas, no estilo mais danoso à democracia. Porque se pensam que estão fazendo algo de bom no combate à corrupção, estão pura e simplesmente criando uma confusão que vai acobertar os corruptos verdadeiros.

A líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), depois de uma rápida consulta pelo telefone ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, verificou que é comum a prática de se retirar de inquéritos informações que tenham sido colhidas durante a investigação mas que não tenham relação direta com o processo em curso.

- Acabei de falar com o Paulo Lacerda e ele me esclareceu que isso é comum no encaminhamento de cópias de inquéritos - explicou.

Os esclarecimentos prestados pela líder petista, no entanto, não impediram que praticamente todos os parlamentares presentes na sessão aparteassem o senador Arthur Virgílio, que permaneceu na tribuna por cerca de três horas consecutivas. A maioria fez questão de se solidarizar com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que teve o nome confundido com um outro Gilmar, só que de Melo Mendes, que estaria entre os investigados da Operação Navalha.

- Quem vazou o nome de Gilmar de Melo Mendes sabia que ele não era o ministro Gilmar Mendes, mas na verdade quis intimidar um ministro da Corte Suprema do país - lamentou Virgílio, que defendeu que a CPI da Navalha não só seja instalada o quanto antes, como tenha seu objeto de investigação ampliado e direcionado para todas as empreiteiras do país.

Pouco antes do líder tucano subir à tribuna, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) havia feito um pronunciamento criticando a forma de atuação da Polícia Federal, a pirotecnia de algumas prisões e a falta de conclusão de várias investigações como, por exemplo, a que apura há mais de três anos o ex-assessor especial da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina.

- Falta ainda credibilidade e responsabilidade da Polícia Federal para concluir vários inquéritos que ficaram pela metade. Waldomiro Diniz continua palitando os dentes. Embora tenha sido flagrado com a boca na botija, roubando, pedindo comissão a um bicheiro, seu comparsa, ele continua solto, sem nunca ter sido preso ou algemado. Esse fato ocorreu há mais de três anos. Portanto, a Polícia Federal deve uma satisfação ao País quanto a esses fatos - lembrou Jarbas.

Para o ex-governador de Pernambuco, o Congresso Nacional não pode se deixar intimidar, nem ficar acuado neste momento. Na sua opinião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu para essa situação chegar a esse ponto na medida em que nomeou um dirigente petista para comandar o Ministério da Justiça, no caso, Tarso Genro.

- Há uma deliberação da Polícia Federal no sentido de intimidar o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e várias pessoas, divulgando-se notícias muitas vezes controversas. Está aí provado que o Ministério da Justiça não poderia ter sido entregue, não poderia ser comandado – como Lula fez, de forma irresponsável – a um ex-dirigente de partido, um ideólogo do partido, porque tudo ficaria sob suspeita a partir daí. A Polícia Federal tem usado e abusado da força, tem usado e abusado de métodos que são usados em regimes fascistas, em regimes de força, de exceção, de ditadura - acrescentou.

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