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Aécio e João Leite, candidato tucano derrotado a prefeito de Belo Horizonte. | Nitro
Aécio e João Leite, candidato tucano derrotado a prefeito de Belo Horizonte.| Foto: Nitro

Falta de liderança local, investimento excessivo nas obras da Cidade Administrativa e aliança com grupos liberais em nome do projeto de chegar à Presidência da República. Essas são algumas das razões que explicam as sucessivas derrotas pessoais do senado Aécio Neves (PMDB-MG) em seu próprio reduto eleitoral - confira quais foram essas derrotas eleitorais e os resultados das urnas. Apesar de o PSDB ter sido um partido vitorioso nas eleições de outubro, a derrota do candidato tucano à prefeitura de Belo Horizonte, João Leite, reacendeu dúvidas sobre o potencial político de Aécio Neves.

Neto do ex-presidente Tancredo Neves, Aécio foi deputado federal e, de 2003 a 2010, governou Minas Gerais, concomitantemente com Lula na Presidência. Os dois gozaram de altos índices de popularidade e foram aliados. “O Lula alimentou o Aécio porque queria rachar o PSDB, bater nos tucanos de São Paulo. Nas eleições, foram até criados comitês ‘Lulécios’ [de apoio a Lula e Aécio]”, lembra o sociólogo Rudá Ricci, do Instituto Cultiva, de Minas Gerais. Isso levou a uma grande aliança para lançar Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura de Belo Horizonte em 2008.

Distanciamento do ideário

Para Ricci, um dos erros de Aécio foi se distanciar do ideário social-democrata, base do PSDB. “Talvez em uma ânsia de derrotar o PT, ele se juntou a grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), algo que tucanos históricos nunca aprovariam. Acontece que o eleitorado de Minas não é de direita”, observa.

Em 2010, Aécio ganhou a eleição para o Senado com folga. Nas eleições de 2012, o PT rompeu com o grupo dominante, e Márcio Lacerda foi reeleito tendo o PSDB na coligação. Em 2014, na disputa presidencial, o tucano ainda mostrou força em Belo Horizonte, e obteve o dobro de votos válidos do que os recebidos por Dilma. A apuração em todo o estado, porém, mostrou Dilma vitoriosa tanto no primeiro turno como no segundo. Além disso, o PT conseguiu eleger Fernando Pimentel como governador no primeiro turno, derrotando João Pimenta, do PSDB.

“O grande erro dele foi em 2014. O candidato natural do PSDB [para o governo de Minas] era o deputado federal Marcus Pestana. Mas, para receber apoio nacional, Aécio cedeu e aceitou a indicação de um nome ligado a Fernando Henrique Cardoso”, diz Ricci.

O sociólogo afirma que João Leite e Aécio Neves não são próximos, mas o PSDB não tinha outros nomes disponíveis. A aliança outrora vitoriosa com Márcio Lacerda foi desfeita. “Aécio tem um jeito estranho de fazer política. Ele não lidera, ele é liderado pelos pequenos nichos de poder”, avalia Ricci.

Gestão

As heranças deixadas por Aécio Neves no governo de Minas também passaram a ser questionadas. “Ele deixou uma grande dívida para o Antonio Anastasia e depois o Fernando Pimentel recebeu o estado quebrado. O custo de construção da Cidade Administrativa passou a ser questionado”, diz o economista Ivan Beck Ckagnazaroff, professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O local, que reúne as secretarias de estado, foi construído na gestão de Aécio e custou cerca de R$ 1 bilhão. Fica a 20 quilômetros do centro da capital, e o trânsito é um transtorno para funcionários públicos. Além disso, a obra voltou ao noticiário recentemente, com notícias de que a empreiteira responsável, OAS, vai delatar pagamento de propina pela obra.

Outro problema é a falta de carisma do tucano, diz o professor. “O que se vê é que a classe média não tem muita confiança em Aécio. Ele erra no estilo pesado de fazer política. Apostou muito no marketing político, mas não tem muita ligação com Minas Gerais. Passa grande parte do tempo no Rio de Janeiro.”

Resultado contrasta com conquistas de Alckmin

A derrota do PSDB pela prefeitura de Belo Horizonte no segundo turno contrasta com a grande vitória obtida pelo PSDB em São Paulo ainda no primeiro turno. O resultado é totalmente atribuído ao governador Geraldo Alckmin, que bancou a candidatura vitoriosa do empresário João Doria a prefeito da capital paulista.

Tanto em Minas Gerais como em São Paulo, porém, o número de prefeitos e vereadores eleitos do PSDB subiu em relação a 2012. Segundo dados do próprio partido, são 169 prefeituras e 1.023 vereadores em São Paulo. No território mineiro, foram 133 prefeituras conquistadas e 901 cadeiras nas câmaras legislativas. Nenhum deles, porém, bateu o recorde registrado em 2008. Na época, foram 205 prefeitos eleitos em São Paulo e 158 em Minas.

O economista Ivan Beck Ckagnazaroff, professor na UFMG, destaca a vitória de Alckmin, mas pondera que Aécio tem outros atributos importantes para os planos do partido. “O trânsito que Aécio tem em Brasília e com os demais partidos é diferente do que o trânsito que Alckmin tem. O senador parece ter maior acesso à elite política, o que é muito importante na hora de definir a candidatura”, observa.

Aécio foi vitorioso em todo o território nacional, diz aliado

Para o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), as avaliações de que o senador Aécio Neves está enfraquecido em seu reduto eleitoral são “superficiais”. Ele diz que a eleição para a prefeitura em Belo Horizonte foi atípica, e por isso o candidato tucano foi derrotado por Alexandre Kalil (PHS).

“Kalil é tipicamente um fenômeno populista, um outsider, uma metralhadora giratória. Ele é uma mistura de Trump, Collor e PSTU”, afirma Pestana, criticando o que considera atitudes antidemocráticas do prefeito eleito. “O Kalil se colocou contra o sistema político como um todo e, ao mesmo tempo, conseguiu se safar de tudo. Nenhuma crítica colava nele. Era como Lula nos tempos áureos, um teflon”, relata.

Pestana ressalta que o PSDB está muito satisfeito com o resultado das eleições. “Aécio Neves, como presidente do partido, é um grande vitorioso. Foram eleitos milhares de vereadores, 803 cidades que representam 25% do eleitorado, que vão se juntar aos nossos sete governadores, 12 senadores, 50 deputados federais e centenas de deputados estaduais”, diz.

Sobre a possibilidade de ter sido lançado candidato ao governo em 2014, Pestana desconversa. “Águas passadas não movem moinhos. Temos que olhar para o que a população quer. E ninguém está preocupado com 2018. A população quer a melhora da economia e o fim da corrupção”, acrescenta.

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