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A imagem do filho fardado deixando a casa rumo ao batalhão não sai da cabeça de Aparecido Andrade, de 55 anos. Ver uma foto do jovem, de 26 anos, já é motivo para um dia de sofrimento e lágrimas. Passados exatos três meses da morte do soldado Anderson Andrade, metralhado quando cuidava do carro da Polícia Militar, em Santo André, na Grande São Paulo, durante os ataques de uma facção criminosa, o aposentado Aparecido passará o Dia dos Pais sem ter o que comemorar.

Não bastasse a dor da perda, Aparecido enfrenta outro calvário. Semanalmente, corre atrás dos documentos pedidos pelo comando da corporação para conseguir que a família receba um benefício — seguro de vida — pela morte do filho policial. Noventa dias se passaram e os pais e irmãs ainda não foram beneficiados.

No dia do enterro, o soldado Andrade passou à condição de herói. Foi sepultado ao som da marcha fúnebre e a família recebeu as condolências de altos oficiais. Ao pai, também foi entregue um punhado de cartões.

- Nos procure sempre que precisar - diziam policiais de várias patentes.

Mas é sozinho que Aparecido amarga a correria para enfrentar a burocracia do estado. Só para fazer as autenticações de documentos, os familiares estimam ter gastado R$ 200. Os gastos com combustível para as idas e vindas à sede do setor de departamento pessoal da PM, no Canindé, na zona norte, nem foram contabilizados.

Andrade morreu em serviço. Tinha o perfil do policial correto, não fazia bicos e costumava beijar a farda, segundo a irmã, Andreza, de 27 anos.

- Ele dizia que tinha muito amor pelo que fazia - lembrou a moça.

O policial também ajudava nas despesas da casa. Quando a mãe sofreu uma cirurgia por conta das varizes, Andrade comprou os caros remédios do processo pós-operatório. Despesas pessoais, Andrade tinha poucas.

- A última aquisição dele foi uma televisão e um aparelho de DVD - lembrou o pai.

A família Andrade só quer obter o que lhe é de direito.

- Não penso em dinheiro nenhum, tenho minha aposentadoria. Perdemos uma vida, um pedaço da gente, e dinheiro nenhum vai curar a dor - diz.O governo paulista afirma que negocia o pagamento da indenização por seguro de vida para todas as famílias de policiais e agentes mortos pelo crime, inclusive os que foram assassinados fora do horário de trabalho.

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