
BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff vai subsidiar países vizinhos em ações de combate ao narcotráfico e ao crime organizado. O anúncio foi feito ontem pelo ministro José Eduardo Cardozo, que assumiu ontem a pasta da Justiça. A decisão deve beneficiar países que possuem centros produtores de drogas, como Bolívia e Paraguai. "Teremos que subsidiar iniciativas e fazer operações integradas, disse Cardozo, após tomar posse. "Alguns países de fronteira não têm a capacidade operacional e os recursos que nós temos. Cardozo não quis antecipar valores, mas deixou claro que a cooperação envolverá repasses de dinheiro. "Se for necessário que subsidiemos alguma coisa, temos que fazê-lo, nos limites da lei. Os Estados Unidos já subsidiam ações desse tipo, direcionado ao combate às narcoguerrilha.
O novo titular da Justiça também defendeu reforço no policiamento das fronteiras. Disse que se reunirá nesta semana com Nelson Jobim (Defesa) para negociar parcerias entre a Polícia Federal e as Forças Armadas. Na PF, Cardozo prometeu "eficiência máxima, sem espetacularização das ações. O ministro anunciou também que apresentará um projeto de pacto nacional contra o crime organizado e disse que o combate à corrupção será um "divisor de águas a ser estabelecido "imediatamente".
Secretaria-Geral
Em uma das solenidades de posse mais concorridas na Esplanada dos Ministérios, o filósofo Gilberto Carvalho assumiu ontem a Secretaria-Geral da Presidência. Chefe de gabinete de Lula durante oito anos e ex-seminarista, Carvalho fez um discurso que mais parecia um sermão religioso. Lembrou seu tempo de militância política no Paraná, mandou "bênçãos" para a plateia, pregou a "fraternidade" e chorou ao citar o pai e os companheiros que morreram no combate à ditadura. Ele surpreendeu a plateia de cerca de 500 pessoas ao afirmar que morreria por Lula.
No discurso, Carvalho relatou que após dar um depoimento à CPI dos Bingos, no final de 2005, sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, com o qual trabalhou, Lula o esperava no Planalto. "Ele tinha atrasado uma viagem e ficou me esperando, sentado na minha sala, pra dizer: Gilbertinho, vamos tomar uma cachacinha aí pra você esquecer essas coisas e vamos tocar a vida pra frente", relatou. "Isso eu jamais vou esquecer. Por esse homem eu posso morrer!"
Em um momento de emoção, Carvalho disse que, durante a militância numa favela no Paraná, nos anos 1970, prometeu que não descansaria enquanto crianças morressem por desnutrição e pneumonia. Dirigindo-se à plateia, ele "convocou" todos a lutarem pelo fim da miséria e pela construção de um país justo e fraterno.
Caberá a Gilberto Carvalho dar continuidade ao trabalho iniciado por Luiz Dulci, de interlocução com os movimentos sociais.
O novo ministro ressaltou que esse trabalho é marcado por uma tensão constante, por envolver demandar reprimidas e armazenadas durante séculos, que nem sempre podem ser atendidas. Entre esses focos de tensão, Carvalho apontou, em entrevista concedida durante a posse de Dilma, a pressão pelo aumento do salário mínimo, a reforma agrária e as questões indígenas.



