
A CPMI do Cachoeira livrou governadores e parlamentares da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico e de serem convocados a explicar suas relações com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na reunião de ontem, os integrantes da CPMI aprovaram a covocação de 51 pessoas, mas deixaram de fora da lista os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). O empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta Construções, também não será convocado.
A votação praticamente sepulta as chances de a CPMI fazer uma investigação mais ampla. O trabalho dos parlamentares deve ficar restrito ao que já foi apurado pela Polícia Federal sobre os membros do grupo de Cachoeira, sem avançar para outros pontos, principalmente em relação a políticos, que têm direito ao foro privilegiado. A PF também não investigou a Delta porque seu trabalho era focado em Cachoeira.
Integrantes da base e da oposição fizeram questão de negar, durante o encontro, que tenha havido acordo para não votar os pedidos de depoimento de Cavendish e dos governadores. "Nós não vamos blindar nenhuma pessoa que foi corrompida ou cooptada pela organização criminosa", afirmou o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), que sequer colocou em votação os requerimentos acerca dos governadores e de Cavendish.
Cunha disse na sessão que a convocação do ex-presidente da Delta e dos governadores será analisada em "outro momento". É possível que esses pedidos sejam votados no dia 5 de junho. Os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Fernando Francischini (PSDB-PR), ambos da oposição, apoiaram a proposta de adiar a discussão.
Corre nos bastidores que os caciques do PT, PMDB e PSDB teriam fechado um acordo para poupar Perillo, Agnelo e Cabral. No pacote dos governistas, teria entrado ainda a preservação da Delta nacionalmente. A empresa, que tem obras com o governo federal, é suspeita de ter Cachoeira como sócio oculto.
Delta
Na reunião de ontem, os governistas conseguiram limitar a apuração contra a empreiteira à atuação de Cláudio Abreu, ex-diretor da empresa na Região Centro-Oeste. Os deputados e senadores aprovaram apenas a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do ex-diretor e da empresa na região.
Essa foi a decisão que provocou maior polêmica. O relator e parlamentares do PT e PMDB afirmaram que não existem indícios contra a atuação da empresa em nível nacional, o que gerou protestos.
"Estamos passando vergonha aqui. A Delta recebeu mais de R$ 4 bilhões do governo federal e não vamos quebrar o sigilo da empresa? Como vamos explicar isso ao Brasil?", afirmou Francischini.
"É a CPI do conta-gotas. O dinheiro do Centro-Oeste vai para a central da empresa", disse o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR). "Em relação à Delta não existem apenas indícios, existem provas", comentou o senador Alvaro Dias (PR), líder dos tucanos no Congresso, em referência a vários diálogos interceptados pela PF que citam a empresa.
Vaccarezza é flagrado blindando Sérgio Cabral
Da Redação, com Agência Estado
Troca de mensagens por celular flagrada ontem pelo SBT durante reunião da CPMI do Cachoeira mostra que pelo menos uma parte do PT queria proteger o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
"A relação com o PMDB vai azedar. Mas não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu (sic)", escreveu o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo, para Sérgio Cabral. A imagem da mensagem foi gravada pelo SBT.
Outros partidos
Mas a "blindagem" de políticos não pode ser creditada apenas ao PT. Num jogo combinado entre o governo e parte da oposição, a CPMI do Cachoeira engavetou vários pedidos de investigação. Dos 87 requerimentos aprovados, apenas um busca informações sobre a ligação entre o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e Cachoeira. "Não sei por que saio da reunião de hoje com gosto de orégano na boca", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).
Pedido ao STFDeputados e senadores aprovam o fim do sigilo de inquéritos
A CPMI do Cachoeira aprovou ontem a quebra do sigilo dos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo, que originaram as suspeitas sobre as atividades do empresário Carlinhos Cachoeira. O requerimento será encaminhado ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que ele que afaste o sigilo das provas colhidas pela Polícia Federal nas duas operações.



