
Vários partidos políticos brasileiros de todos os tamanhos são dominados por grupos familiares que, em muitos casos, são bem remunerados para comandar as legendas. Levantamento da Agência O Globo realizado nos 30 partidos registrados oficialmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontrou pelo menos 150 parentes em cargos de direção nas legendas (veja alguns casos no quadro à direita).
Nos partidos menores os clãs familiares tornam-se os verdadeiros donos das siglas, dominando-as por até 28 anos. Às vezes, os pagamentos aos parentes ocorre de forma indireta: dirigentes recebem como consultores da própria agremiação que dirigem; diretores alugam os próprios imóveis como sede partidária; e carros de luxo são comprados para dirigentes. Tudo costuma ser pago com recursos públicos do Fundo Partidário, que distribuirá neste ano mais de R$ 300 milhões.
O Partido Trabalhista Cristão (PTC) que já foi Partido da Juventude (PJ) e Partido da Reconstrução Nacional (PRN) , por exemplo, tem como presidente, desde 1985, Daniel Sampaio Tourinho. Mensalmente, segundo a prestação de contas da legenda de 2010 enviada ao TSE, ele recebe R$ 4.486 como verba de representação, além de mais R$ 12 mil mensais a título de "serviço técnico profissional".
Tourinho vive no Rio de Janeiro e seu filho, Daniel de Almeida, que é o presidente do diretório estadual, aluga um imóvel de sua propriedade para servir como sede da legenda. Em 2010, ele recebia um aluguel declarado de R$ 1.854. Além disso, a Executiva da sigla é dominada por parentes: dos 14 membros, cinco são da família Tourinho.
José Levy Fidelix da Cruz é outro dirigente partidário "vitalício". Preside o PRTB desde que a sigla foi fundada, em 1995. Dos 12 integrantes da direção nacional do seu partido, cinco são parentes dele.
No PSL, Luciano Bivar é o presidente desde 2007. O filho de Luciano, Cristiano Bivar, aluga salas num edifício em Recife para o partido. O outro filho, Sérgio, é delegado nacional da sigla.
O domínio familiar não é restrito às pequenas legendas. No Pará, o PMDB estadual tem como comandante o senador Jader Barbalho, que mantém na Executiva a ex-mulher dele, Elcione, e os dois filhos: Jader Filho e Helder.
Comportamento histórico
O cientista social Paulo Roberto da Costa Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), explica que a política brasileira desde a Colônia é dominada por famílias. "Essa é uma característica que já chamava a atenção dos viajantes que por aqui estiveram no período colonial, no Império e na República. É o patrimonialismo [uso privado de bens públicos] praticado de forma deslavada."
"Espalhar" parentes por várias siglas é estratégia de poder
Melhor do que comandar um partido político é mandar em dois ou mais. Pode parecer contraditório, uma vez que o que se espera de uma agremiação política é a disputa pelo poder com outras siglas. Mas, no Brasil, há caciques políticos que mandam em seus partidos e exercem forte influência em outras siglas normalmente por intermédio de um parente.
Tocantins é um desses exemplos. Uma das lideranças do estado é o senador João Ribeiro, que preside o diretório regional do PR. A mulher do senador, Cinthia Alves Caetano Ribeiro, comando o PTN local.
Em Alagoas, o ex-deputado federal João Caldas (hoje no PEN) também joga em várias frentes para disseminar poder. Em 2010, ele ganhou a suplência na Câmara Federal quando era do PSC. O filho dele, deputado estadual João Henrique Holanda Caldas, é o presidente do PTN local. Já a mulher dele, Eudócia Caldas, foi prefeita de Ibateguara pelo PP.
Negociações
A extensão do poder por outras legendas tem uma explicação simples: ao dominar mais de um partido, a família passa a ter mais influência na hora da formação das alianças eleitorais em seus estados, negociando com quem quiser o tempo de tevê. Além disso, as chances de uma família de políticos ocupar espaço em governos aumentam consideravelmente.



