
Brasília - O PT deve aprovar neste fim de semana um documento que mantém o partido, em teoria, como uma legenda de esquerda e de contestação ao capitalismo. Embora em oito anos de governo os petistas tenham passado longe de formular políticas socialistas, a resolução do 4.º Congresso da sigla critica partidos da esquerda europeia por "capitular ao domínio do neoliberalismo".
O congresso nacional petista serve para dar as diretrizes principais da legenda. Ontem, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula participaram do evento. Principais estrelas do partido, os dois foram os grandes responsáveis pela guinada para o centro que a legenda deu a partir de 2002 e que os militantes parecem querer "corrigir" com a nova resolução a ser votada.
Em 24 páginas, o documento fala em "trincheiras" ao abordar as campanhas das eleições municipais de 2012 e diz que a esquerda dos países europeus "não conseguiu dar respostas adequadas à crise". A resolução petista defende ainda velhas bandeiras da esquerda brasileira: o aumento da taxação das grandes fortunas, sobre as heranças e os lucros, como uma forma de frear a especulação financeira.
Pressão
Os conflitos entre "o PT do governo" e o "PT do papel" eram ainda maiores na versão inicial do texto, que foi modificada a pedido do Planalto. A primeira versão do documento defendia a extinção do Senado e, na lista dos projetos de iniciativa popular, sugeria a mudança da composição do Banco Central, com uma regulamentação "republicana" do capital financeiro no Brasil.
Apesar da contradição, a resolução petista é, ao mesmo tempo, um longo elogio ao governo Lula. Com direito à famosa frase "nunca antes na história deste país", o documento está cheio de citações elogiosas ao ex-presidente. Seus feitos ao longo de oito anos de governo são cuidadosamente relacionados na resolução. Lula enfrentou a corrupção, adotou medidas inovadoras e políticas anticíclicas, que evitaram a "contaminação" da economia, além de "diminuir acentuadamente o desemprego" e estabelecer uma "política de elevação do valor real do salário mínimo".
Economia
Outro ponto de conflito entre o PT e o governo parece residir na política econômica. O documento a ser votado cobra políticas mais ousadas de redução de juros no país. "A questão dos juros e do câmbio precisa ser enfrentada com medidas mais ousadas. O câmbio elevado é uma ameaça à economia brasileira, que exigirá no curto prazo medidas de forte impacto, capazes de frear o livre ingresso de dólares, os quais, fantasiados de investimento direto, na verdade, buscam lucros financeiros, obtidos pela diferença das taxas de juros do país de origem e a Selic", diz o texto.
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O PT continua sendo um partido de esquerda?
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