Brasília - Uma pesquisa nacional encomendada ao Ibope por um ex-deputado tucano, que deveria circular apenas internamente, vazou ontem para a imprensa e causou irritação no governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves. O levantamento, que testa as potencialidades de uma chapa puro-sangue do PSDB para a Presidência da República em 2010, revela que o governador tucano de São Paulo, José Serra, não ganha nada em ter Aécio ao seu lado como vice. M as o mineiro ganha muito se estiver na cabeça de chapa e o paulista for o vice.
O levantamento, encomendado pelo ex-deputado Ronaldo César Coelho (PSDB-RJ), mostra que a chapa tucana com Serra candidato a presidente e Aécio de vice teria 41% das intenções de voto, bem à frente dos 16% dados à chapa PT-PMDB, encabeçada pela ministra da Casa Civil, a petista Dilma Rousseff, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB), como vice.
Em uma simulação que não menciona o nome do vice, o governador paulista também recebeu os mesmos 41% das intenções de voto, sete pontos porcentuais a mais do que ele próprio alcançara na pesquisa de setembro. Nesse cenário, Serra é seguido pela petista Dilma Rousseff (17%), tecnicamente empatada com o deputado Ciro Gomes (16%), do PSB. A pré-candidata do PV, senadora Marina Silva, foi a preferida de 9% dos entrevistados.
Mineiro na frente
Na simulação em que o candidato tucano é o governador mineiro, Ciro venceria o primeiro turno com 26% das preferências. Aécio, que também cresceu 7 pontos porcentuais de setembro para cá, empataria com Dilma no segundo lugar, ambos com 19% dos votos. Marina Silva (11%) seria a quarta colocada.
Aécio, porém, largaria na frente da corrida eleitoral no cenário em que ele seria o candidato e Serra o vice. Com esse reforço, o governador de Minas teria 25%, Ciro 22%, Dilma 19% e Marina 9%. Aécio ainda teria chance real de vitória no segundo. A dupla Aécio-Serra receberia 37% das intenções de voto contra 34% dados à chapa Dilma-Michel Temer. No embate com Ciro Gomes e o PDT do ministro Carlos Lupi (Trabalho) na vice-presidência, o resultado seria empate com 35% de preferência para cada um.
Aliados do governador mineiro viram um lado positivo na pesquisa, que mostra o peso de Serra no eleitorado. Para eles, a pesquisa pode liberar Aécio do "sacrifício" de assumir a vice-presidência na chapa em 2010, dando-lhe liberdade para optar por uma candidatura certa ao Senado, enquanto Serra briga pela Presidência.
Sem autorização
Apesar disso, Aécio não ficou contente com o vazamento dos dados. "O PSDB nacional não tem minha autorização para fazer pesquisa incluindo meu nome como candidato a vice-presidente. Isso seria desperdício de dinheiro, porque essa hipótese não existe", disse o governador mineiro.
Ele levou seu protesto ao presidente nacional do partido, o senador Sérgio Guerra (PE). Na suposição de que a direção partidária patrocinara a pesquisa sem aviso prévio, para pressioná-lo a assumir o cargo de vice de Serra e facilitar a vitória do PSDB em 2010, Aécio avaliou que foi atropelado e também traído pelo vazamento dos resultados. O PSDB negou que a direção nacional tenha encomendado a pesquisa.
