
Apesar de uma das marcas das manifestações que tomaram conta das ruas das maiores cidades brasileiras ser a rejeição aos partidos políticos, o PT decidiu se mobilizar para participar das passeatas de ontem. Parte dos manifestantes de todo o país, porém, rechaçou a presença de militantes partidários não só do PT no movimento. Em alguns casos, houve violência. Além disso, a tentativa dos partidos de aderir provocou em diversas cidades uma clara divisão no movimento entre partidários e apartidários. Já a oposição ao governo de Dilma Rousseff acusou os petistas de oportunismo político para tentar evitar um desgaste maior à imagem da presidente.
A militância do PT se mobilizou pelas redes sociais na internet para participar dos atos marcados para ontem. Nas redes sociais, os petistas convocavam os militantes a partiparem da "onda vermelha", a dizer "não" ao suposto golpe contra Dilma e a apoiar a presidente.
Em nota, o presidente do PT, Rui Falcão, tentou capitalizar o movimento e aproveitou para atacar a mídia, uma de suas principais bandeiras. "A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas", diz o documento assinado por Falcão.
Grito de guerra
Ainda assim, em quase todas as cidades que ontem tiveram manifestação houve grupos gritando: "Sem partido, sem partido". Era um sinal de repúdio aos políticos tradicionais e de que uma parte dos manifestantes quer que o movimento tenha caráter apartidário, embora a origem dos protestos tenha tido a presença de militantes de legendas de extrema esquerda.
Em Curitiba, houve protestos de manifestantes apartidários contra a presença de bandeiras de partidos. E a passeata que saiu do Centro em direção ao Centro Cívico se dividiu, no início, entre militantes e apartidários, que seguiram caminhos diferentes para, mais à frente, se reencontrarem. Ainda assim, os dois grupos se mantiveram distantes.
Já o protesto em Florianópolis (SC) começou tenso por causa da participação de filiados de alguns partidos de esquerda, como PT e PSTU. Com bandeiras e carros de som em frente ao ponto de concentração, no terminal integrado do centro, militantes partidários foram reprimidos pelos gritos "Sem partido, sem partido".
Em São Paulo também houve provocações de ambos os lados. Militantes partidários foram hostilizados por palavras de ordem como "Vão para Cuba" e "Vão para a Venezuela". Em Brasília também houve grupos que gritavam contra a participação de filiados ou simpatizantes partidários embora fossem minoria.
A oposição ao governo federal reagiu à convocação da militância petista para ir às ruas. O líder PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), disse que a mobilização do PT é uma "estupidez". "Quem quiser surfar nessa onda, vai dançar. A manifestação do PT paralela aos protestos é de uma estupidez monumental. As manifestações estão expelindo todos que querem partidarizar o movimento ou aqueles que agem com violência", disse o tucano.
O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), e o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) classificaram de "oportunista" a tentativa do PT de capitalizar as manifestações para si. "Isso me lembra o ex-presidente Collor que, quando pediu apoio à população [durante a crise que resultou em seu impeachment], todos colocaram bandeiras pretas em frente de suas casas", disse Alvaro.
Até mesmo alguns petistas criticaram a decisão do partido de entrar nas manifestações. O governador da Bahia, Jacques Wagner, disse que "o PT tem responsabilidade com a nação" e não pode glamourizar o movimento."É correto o PT não hostilizar nem criminalizar o movimento. Agora, precisa saber como entra. Não pode engrossar uma coisa difusa. Tenho medo dessa glamourização." Para ele, o papel do partido deveria ser a identificação das demandas das ruas e dos seus interlocutores para negociar com eles.
Órgãos públicos se esvaziam e encurtam expediente
Das agências
Por causa das manifestações realizadas ontem em Brasília, alguns órgãos públicos anteciparam o encerramento das atividades ou ficaram esvaziados. Na Câmara dos Deputados e no Senado, diante da iminente presença dos manifestantes, poucos parlamentares permaneceram no prédio. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou o Congresso pela garagem, evitando a manifestação. Já o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abreviar seu funcionamento. O presidente em exercício do Supremo, ministro Ricardo Lewandowski, encerrou a sessão do plenário logo após o fim da votação que liberou a tramitação de um projeto de lei que inibe a criação de partidos políticos.
Antes de deixar a Corte para ir a uma consulta médica no Rio de Janeiro, por volta das 15h30, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, determinou a liberação todos os servidores da Casa antes do fim do expediente, às 17 horas.
TJ-PR
O Tribunal de Justiça do Paraná, em Curitiba, também antecipou o fim do expediente para as 17 horas, tanto ontem como hoje, em função dos protestos.




